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Letter - from The Lost Days | Uma obra prima escondida em Silent Hill

Eu já tinha escrito aqui sobre como Silent Hill mostrou que o terror pode ser belo, e é bem notável que existe um encanto natural que consegue tocar muita gente, e não é à toa que existem obras extremamente reflexivas relacionadas a ela, como é apresentado no livro Jogos e a Teoria do Medo, que decodifica a obra da Konami. E isso se deve a uma quantidade imensa de elementos, sendo uma delas, as músicas, e eu inclusive tinha feito um artigo sobre a maravilhosa trilha sonora de Silent Hill. Mas hoje vou falar sobre uma música em especial que considero uma verdadeira obra prima. Essa também é uma matéria reflexiva sobre horrores que a vida pode trazer.

Quem jogou Silent Hill 3, teve uma enorme surpresa ao se deparar com muito mais trilhas sonoras cantadas do que tínhamos até então, e a belíssima voz de Mary Elizabeth McGlynn, que inclusive se tornou também a voz de Mary e Maria na versão remasterizada de Silent Hill 2. E entre as músicas estava "Letter - from The Lost Days", que é o tipo de música que notavelmente não é apenas melodia e letra, mas também uma ótima ideia. É aquilo que te faz pensar "Nossa, uma alma foi colocada aqui, algo feito com paixão". Não é à toa que o compositor da série, Akira Yamaoka, é idolatrado.
 
Mas bom, acho que o que torna essa música tão especial, é o fato de pegar um elemento da vida que pouca gente pensa, e o usa como centro da composição. Isso costuma ser uma dificuldade, já que a maioria das músicas é sempre sobre a mesma coisa, o amor... Seja um amor perdido, um amor não correspondido, um amor inalcançável. São músicas bonitas, mas é um sentimento forte e fácil de se compor sobre, e a vida tem muito mais coisas que toca nossas almas.
No caso de Letter, o tema é sobre como a vida de uma pessoa pode mudar completamente, e como podemos esquecer de nós mesmos. E acaba se tornando extremamente inspiradora, já que é fácil olharmos para fotos antigas, textos, vídeos e então percebermos o quanto estamos diferentes agora. Coisas que fazíamos, algumas boas, outras ruins. Mas especialmente como podemos cair na amargura aos poucos sem perceber, ou devido a acontecimentos terríveis.
 
E a forma que essa música me toca é exatamente por cruzar com uma série de sentimentos que tenho em relação a muitas coisas. Então enquanto no começo do milênio eu apenas achava ela uma música mais melodicamente encantadora, na medida em que passei a ter conceitos novos em relação à vida e às coisas, a minha visão dessa obra também se ampliou muito.

Uma das coisas que passei a pensar com o passar dos anos, foi em como eu preciso me sentir grato pelos bons momentos. Eu sei que nossa condição como humanos é de sempre estarmos insatisfeitos com alguma coisa. Acredito que isso deve ser uma forma da natureza de impedir o suicídio, já que alguém que tem tudo, certamente teria uma vida tediosa e sem desafios, sem nada a alcançar. Então provavelmente isso é o que nos faz ter tristeza do nada quando tudo parece bem.
Eu não lembro exatamente quando, mas teve algum momento da minha vida que algo me causou muita dor. E na hora, tudo o que eu pensava era em como seria bom estar bem, sem sentir aquilo. E quando passou, comecei a a me sentir grato e tentar lembrar disso quando estou bem. E o mesmo em relação a todos os bons momentos da vida. Não consigo ficar o tempo todo me sentindo grato, mas eu tento me lembrar de como sentir dor é ruim, então de vez em quando vem um lapso de "Lembre de aproveitar esse momento".

E assim vai, a vida é um piscar de olhos. Pra uma criança de 5 anos de idade, 5 anos atrás foi uma vida inteira, foi 100% da vida dela, mas pra uma de 10, foi 50%, e esse número vai diminuindo. Um cara de 25 anos já vê 5 anos atrás como algo que foi agora à pouco. Então quanto mais velho, mais você nota que as décadas passam voando. E a maravilha da vida vai muito mais do que coisas como ganhar o último PC, namorar a pessoa que você sempre quis ou ficar rico. 
 
Acho que é importante perceber que você tem olhos e enxerga, e o quanto são órgãos frágeis que um acidente pode tirar essa maravilha de você. Poder andar para os lugares ou conseguir ter uma boa noite de sono à noite sem ficar horas virando de um lado para o outro até beirar a loucura. Coisas como sentir os sabores, ter pais, ter amigos verdadeiros. Ou só poder ter a paz de sentar em um lugar em um dia bonito.
Desde cedo eu percebi o quanto a maioria dos amigos são ilusões. Tipo os "amigos da escola", que ao terminar, todos desaparecem. São sortudas as pessoas que tem amigos e sentem essa conexão fenomenal que é uma amizade, e não apenas a galera de sair. Estou falando de alguém que te entende, se preocupa com você, e se sente bem com sua presença. É algo que acho bem raro e que requer investimento de tempo, além de paciência e sorte, pois depende também da outra pessoa.
 
Então enquanto na minha adolescência eu conhecia várias pessoas, ia ao cinema, isso foi fisicamente diminuindo cada vez mais. Até que chegou a um ponto em que só parei de sair. Hoje em dia é uma verdadeira raridade, e tem pessoas que sinto um carinho, mas as pessoas que sinto esse amor que é a amizade, são difíceis.

Por outro lado, enquanto eu sentia uma baita solidão no início da adolescência, por sentir falta dos amigos que eu tive na infância e cada um foi para seu canto, na vida adulta essa ideia de abraçar as maravilhas da vida acabaram se mostrando algo extremamente aconchegante pra mim. Como nunca fui uma pessoa próxima da família, acabei sentindo bastante a solidão e me abraçando essas pequenas coisas. Adoro olhar pela janela ou só caminhar por aí e olhar as coisas. Também fico maravilhado com o mundo moderno e me pego várias vezes mostrando certas coisas para o EU dos anos 90, e imagino como ficaria maravilhado com isso.
Recentemente entrei em um verdadeiro pesadelo, coisa que acontece, e inclusive já criei paranoia com isso. Vez ou outra penso "Será que a pior coisa que vai acontecer na minha vida ainda está por vir?". Especialmente vendo a velhice chegando, dores aparecendo, notando que meu corpo já não é tão resistente. Me sinto sortudo que nunca bebi, fumei ou usei drogas, mas ainda assim sinto coisas. E ao lembrar de horrores como uma prima minha que morreu de câncer, temo muito uma morte assim. Essa ideia de morrer gritando de dor me incomoda, até porque não consigo imaginar um jeito tranquilo de acontecer. Mesmo um avião caindo ainda vai te colocar no horror extremo, mesmo que por segundos.

E assim, um pesadelo veio... Não tão grande, mas uma das coisas que mais aprendi a temer. Eu falei sobre no post que fiz sobre a necrose que descobri graças a um canal. Por incrível que pareça, o que mais me encheu de horror não foi o fato de ter tecido morto crescendo na minha cabeça ou a fortuna que me faliu e tive que deixar o orgulho de lado e pedir ajuda. O que mais me encheu de horror foi a dor, pois anestesia não pegou em mim nem pra extrair sisos, nem pra fazer esse canal. Foi uma tortura que eu nunca mais queria passar.

Então quando pedi um raio-x pra descobrir se tinha cárie nos dentes e descobri que uma necrose comeu a raiz de um dente, imagina o quanto não me senti sacaneado pelo universo? Tanta gente que não cuida dos dentes, e eu paranoico, fazendo a chatice de passar fio dental o tempo todo e usar flosser e ainda assim rola uma dessas comigo. Eu fiquei muito, muiiiito mal. E isso se intensificou por morar só e não ter amigos perto, minha família toda morando distante. Acho que nunca me senti tão só e no desespero de que algo muito horrível estava para acontecer.
Mas bom, no fim das contas, o que achei que seria puramente uma tortura, acabou sendo tranquilo. A anestesia simplesmente pegou, iniciei o tratamento de canal no dente que tava sendo comido, e extraí o canal original. A sensação foi sem palavras, já que eu realmente tava me sentindo em um baita momento sem saída.

Foi engraçado voltar pra casa após tirar os pontos, sentir o sol no rosto, e um alívio enorme no peito. Especialmente porque dias antes eu estava tão angustiado, que simplesmente não sabia o que fazer. E olha que um dos "mantras" que usei na cirurgia e ficava repetindo pra mim, era "Tem muita gente passando por coisas muito piores". Mas nos dias anteriores a ela, eu só conseguia pensar em como ia ter que sentir a dor de novo, parecendo uma tortura e sem escapatória.

"Letter - from The Lost Days" é uma música que acaba me lembrando isso tudo, exatamente porque ela apresenta duas fases da vida de alguém. Uma delas é maravilhosa e incrível, com sorrisos, pessoas que ama e bons parentes. Enquanto a outra é nebulosa e simplesmente não dá pra saber o que é que tem ali, sendo algo que ainda está para ser descoberto.
Eu acho genial como essa letra foi escrita, porque ela é exatamente no estilo "Carta", onde essa pessoa manda uma carta pra ela mesma no futuro, dando forças pra ela mesma e a apoiando se as coisas estiverem muito terríveis. E acredito que o Akira Yamaoka pensou exatamente nos dias bons que precisam ser valorizados, e não apenas nos decadentes, onde temos pena de nós mesmos. Em como temos uma força interior e que podemos ser felizes.

O nome "Letter - from The Lost Days" (Carta - dos Dias Perdidos), é perfeito para essa canção, sendo bem literal no que se trata. Às vezes nós vamos consolar um amigo e falamos um monte de coisas bacanas, e podemos usar essa força para as horas de solidão. Acho que fica mais fácil quando percebemos que ondas de azar também acabam, e não apenas as de sorte.

Por exemplo, quando somos novos e ganhamos de presente de nossos pais aquele item que tanto queríamos, ou quando você consegue ficar com alguém que queria muito. São coisas que na hora são fenomenais, maravilhosas. E então nos acostumamos e passa, sendo que ainda é algo que pode ser maravilhoso. Mas a parte boa é que todo o horror também acaba passando. Então por mais que o nível chegue a um extremo, chega uma hora que a coisa só começa a se normalizar. E lembrar que conseguimos ser felizes certamente ajuda. Essa é a letra:
 
Inglês Português
A letter to my future self
Am I still happy? I began
Have I grown up pretty?
Is dad still a good man?
Am I still friends with Coleene?
I'm sure that I'm still laughing
Aren't I?
Aren't I?
Uma carta para o meu eu futuro
Ainda sou feliz? Eu começo
Terei crescido bonita?
Papai continua sendo um bom homem?
Ainda sou amiga da Coleene?
Tenho certeza que ainda estou sorrindo
Não estou?
Não estou?
Hey there to my future self
If you forget how to smile
I have this to tell you
Remember it once in a while
Olá, para o meu eu futuro
Se você se esquecer de como sorrir
Tenho isto para te contar
Lembre-se de vez em quando
Ten years ago your past self
Prayed for your happiness
Please don't lose hope
Há dez anos atrás o seu eu passado
Rezou pela tua felicidade
Por favor não perca a esperança
Oh, oh, what a pair, me and you
Put here to feel joy, not be blue
Sad times and bad times, see them through
Soon we will know, if it's for real
What we both feel
Oh, oh, mas que par, eu e você
Colocados aqui para sentir alegria, não tristeza
Tempos tristes e tempos maus, veja através deles
Em breve saberemos, se é real
O que nós dois sentimos
Though I can't know for sure how things worked out for us
No matter how hard it gets you have to realise
We weren't put on this earth to suffer, and cry
We were made for being happy, so
Be happy
For me
For you
Please
Embora não tenha certeza de como as coisas resultaram pra nós
Por mais difícil que seja, tem de perceber
Não fomos colocados nesta Terra para sofrer, e chorar
Fomos feitos para sermos felizes, por isso
Seja feliz
Por mim
Por você
Por favor
Oh, oh, what a pair, me and you
Put here to feel joy, not be blue
Sad times and bad times, see them through
Soon we will know if its for real: What we both feel
Oh, oh, mas que par, eu e você
Colocados aqui para sentir alegria, não tristeza
Tempos tristes e tempos maus, veja através deles
Em breve saberemos se é real o que sentimos
We were put here on this earth, put here to feel joy
We were put here on this earth, put here to feel joy
We were put here on this earth, put here to feel joy
We were put here on this earth, put here to feel joy
Fomos colocados nesta Terra para sermos felizes
Fomos colocados nesta Terra para sermos felizes
Fomos colocados nesta Terra para sermos felizes
Fomos colocados nesta Terra para sermos felizes
 
Eu gosto muito de como a pessoa que escreve a carta se coloca como uma entidade separada dela no futuro, como se fossem duas pessoas em um corpo só. Dá pra ver isso na parte em que ela cita "Mas que par, eu e você", o que acredito que representa bem a força de vontade de continuar que uma pessoa pode ter, com você falando pra você mesmo seguir em frente quando não tem mais ninguém pra fazer.
 
Também sou maravilhado com o trecho em que é dito "Colocados aqui para sentir alegria, não tristeza", visto que é muito fácil ver apenas o pior lado da vida. Afinal de contas quem é que nunca teve um dia péssimo, e de repente qualquer coisa mínima que acontecia, passou a ser numerada como "Mais uma coisa horrível do dia horrível"?

Enfim, essa é uma música que acho inspiradora, aconchegante e especialmente nesse momento, tem feito muito sentido na minha vida, então eu queria compartilhar, já que é uma obra maravilhosa que acho que vai muito além de "Uma música de um joguinho", sendo trabalhada com uma profundidade que acho impressionante e que gostaria de ver mais em músicas. Mas e vocês? Tem alguma música que acham apaixonante como foi conduzida? Confira também A História de Silent Hill Ilustrada.
 
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Sobre Silent Hill

Silent Hill é uma renomada franquia de jogos de terror psicológico que tem aterrorizado os jogadores desde o seu lançamento em 1999. Com sua atmosfera assustadora, enredo cativante e monstros assombrosos, Silent Hill se estabeleceu como um marco no gênero de jogos de survival horror. Desenvolvido pela Konami, Silent Hill conquistou um lugar especial nos corações dos jogadores, oferecendo experiências únicas e inesquecíveis.

Os jogos de Silent Hill são conhecidos por suas tramas intrigantes e complexas. Cada jogo mergulha os jogadores em uma história envolvente e repleta de elementos sobrenaturais. A cidade amaldiçoada de Silent Hill serve como o cenário principal, onde os personagens principais enfrentam seus medos mais profundos e confrontam suas próprias realidades distorcidas.

No Silent Hill 2, o protagonista James Sunderland busca sua esposa falecida na cidade, enquanto é atormentado por monstros e símbolos perturbadores. Já em Silent Hill 3, controlamos Heather Mason, uma jovem que descobre sua conexão com a cidade e luta para desvendar os segredos de seu passado. Silent Hill 4: The Room introduz Henry Townshend, preso em seu apartamento e enfrentando horrores sobrenaturais.

Os jogos de Silent Hill são conhecidos por seus lugares icônicos, cada um contribuindo para a atmosfera sombria e perturbadora da série. O Hospital Brookhaven, a Escola Midwich e o Lago Toluca são apenas alguns dos cenários memoráveis que os jogadores exploram. A cidade está constantemente envolta por um denso nevoeiro, criando uma sensação de desconforto e isolamento nas ruas vazias.

Além de sua narrativa envolvente, Silent Hill oferece uma jogabilidade desafiadora e repleta de quebra-cabeças intrigantes. Os jogadores devem solucionar enigmas complexos para avançar na história e desbloquear novas áreas. Esses quebra-cabeças adicionam uma camada extra de imersão e mistério à experiência de jogo, enquanto os jogadores enfrentam os terrores do mundo de Silent Hill.

Uma parte fundamental da atmosfera de Silent Hill é a sua trilha sonora arrepiante. Composta por Akira Yamaoka, a música cria uma sensação de tensão e desconforto, acentuando os momentos assustadores do jogo. O ambiente sombrio e os efeitos sonoros perturbadores reforçam a sensação de medo constante, aumentando a imersão e a intensidade da experiência de jogo.

Silent Hill deixou um legado duradouro no mundo dos jogos de terror e continua a ser adorado por uma comunidade de fãs leais. A franquia inspirou inúmeros jogos posteriores e estabeleceu um padrão para o terror psicológico nos jogos eletrônicos. Além disso, Silent Hill teve uma adaptação cinematográfica em 2006, que trouxe a trama misteriosa e os elementos sobrenaturais para as telas de cinema.

Silent Hill é uma prova do poder do terror psicológico nos jogos eletrônicos. Com seus enredos complexos, atmosfera assustadora e jogabilidade desafiadora, a franquia continua a influenciar os jogos modernos de horror. Os jogadores são convidados a explorar os confins sombrios da mente humana, enfrentando conflitos internos e reflexões psicológicas perturbadoras.

Silent Hill oferece uma experiência única e inesquecível, repleta de imagens perturbadoras e finais múltiplos, que fazem os jogadores retornarem para descobrir todos os segredos ocultos. Com sua trama envolvente, jogabilidade envolvente e legado duradouro, Silent Hill permanece como uma referência nos jogos de terror e continuará a assombrar os corajosos que ousarem explorar a cidade amaldiçoada.

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