Pra quem assistiu a série The Boys,
adaptação da revista em quadrinhos de mesmo nome, feita por Garth
Ennis, viu a saga do personagem Hughie Campbell descobrindo que os super
heróis amados como Black Noir, Trem Bala e profundo não são tão puros
quanto a propaganda que fazem, e que um superpoder pode causar um caos
absoluto, com todos estando mais para o status de supervilão. Em
especial o "super herói" Capitão Pátria (Homelander), equivalente ao
Superman, e podendo causar danos irreparáveis ao mundo. Mas como seria
um jogo de PC disso? O desenvolvedor Adi Zhavo decidiu nos dar esse
gostinho!
A
história apresenta um super vilão com poder imbatível, e sede
incontrolável para conquistar o mundo, destruindo qualquer um que entre
em seu caminho, de civil a soldado. Mas para isso, faz primeiro um
treinamento em uma realidade simulada, onde todas as possibilidades
acontecem e estão presentes tanto as estruturas, quanto pessoas vivendo o
dia a dia comum e os mais variados tipos de proteção estão presentes.
Tipo a sala de treinamento dos X-Men.
Antigamente,
histórias de super heróis eram bem padrões, com a ideia de não matar e
serem os seres mais puros do universo a ponto de ser inevitável alguém
começar a questionar se seria assim mesmo e como humanos são
corruptíveis. No entanto, embora nos quadrinhos existam visões realistas
há séculos, como o perturbador Miracleman,
do quadrinista Alan Moore, onde o vilão é um adolescente super
poderoso, Johnny Bates (Kid Miracleman), que faz atrocidades capazes de
chocar gente até hoje, Hollywood sempre teve um pouco de medo de mostrar
algo assim, e provavelmente a primeira grande obra a ir com tudo, foi a adaptação de Watchmen, que ainda assim acabou sendo de nicho demais e ficou bem isolada do universo dos heróis.
A
jogabilidade que temos aqui é do tipo "Mate todo mundo!". Ele é um
verdadeiro simulador de vilão extremamente poderoso que quer dominar o
planeta, e em como ele poderia fazer o caos. É naquele nível de
brutalidade que vemos em obras como Imperdoável, de Mark Waid, onde o herói chamado Plutoniano, enlouquece e já começa a história com ele matando uma criança de colo, ou Invencível (Invincible), de Robert Kirkman, que fazem a humanidade parecer só um monte de carne moída sendo esmagada.
Então
o que temos aqui, não é apenas pessoas morrendo, é a coisa sendo feita
de uma forma bem horrível e brutal, onde o autor não se seguro em nada
para apresentar o gore. Portanto as pessoas não apenas morrem e
desaparecem com os tiros laser. Acontecem coisas como elas serem
partidas ao meio e saírem se arrastando com sangue pra todo lado. Não
tem nada daquele laser de Star Wars, onde nunca aparece sangue, pois a
coisa cauteriza automaticamente, o que acaba sendo também muito
conveniente para o cinema, com suas limitações em relação feridas e
sangue.
Nos
videogames, por outro lado, a violência sempre foi uma coisa um pouco
mais aberta. É claro o tabu estava presente também, mas na década de 90
já tínhamos Carmagedon ou mesmo Mortal Kombat, que hoje é tão normal,
que simplesmente não afeta ninguém ver um Fatality. E é bem nesse ponto
que entra Conquer Humanity, um jogo de computador onde aparece uma
chacina rolando solta e uma carnificina bizarra, mas sinceramente acaba
não sendo polêmico, por mais gore que seja. Coisa que seria bem
diferente se fosse no cinema.
Uma das maiores amostras do medo das produções cinematográficas de por vilões, é a HQ Wanted: O Procurado,
onde todos os vilões se juntam para de uma só vez se concentrarem em um
único herói até matar, e depois vão para o outro e outro até limparem a
terra. E então passam a dominar como sociedade secreta, fingindo que o
mundo é normal, mas fazendo todos os horrores possíveis pelas sombras,
matando, estuprando, infernizando, e com a polícia e mídia compradas
(via dinheiro e ameaça), quando um faz uma chacina, no outro dia tá tudo
limpo e/ou com explicações forjadas.
Na adaptação para filme O Procurado,
a sensação que tenho é que compraram os direitos, mas foram mudando aos
pouquinhos, com medo do que o público, a mídia ou qualquer um diria. E
no fim, mudaram tanto, que a história de super vilões escrita por Mark
Millar, virou uma história de super heróis que vão salvar o mundo, e o
máximo de malvado que tem, é que "uma pessoa precisa morrer para que mil
sejam salvas". Já o game de PC Wanted: Weapons of Fate, tenta consertar isso, fazendo um híbrido entre os universos da HQ e do filme.
Em
Conquer Humanity, não há escrúpulos no quesito brutalidade, mas talvez a
temática colorida e o fato de ser um "Universo de fantasia" acaba o
afastando de obras muito parecidas e bem menos brutais, como é o caso do
polêmico game de computador Hatred, que deixou muita gente chocada por parecer mais com nossa realidade e fazer lembrar casos como o massacre de Columbine. Afinal o seu personagem usa armas reais, e não lasers pelos olhos.
Mas
os super poderes do seu protagonista vão muito além. Você basicamente
tem todas as habilidades do Superman e um pouco mais. Então você tem
super velocidade, super força, pode voar e ainda tem telecinese. Se você
já assistiu Brightburn - Filho das Trevas,
aquele filme produzido pelo James Gunn onde reconta a história do Super
Homem como sendo do mal, e se perguntou qual o destino do vilão Brandon
Breyer, esse jogo indie da Steam aqui funcionaria perfeitamente como
continuação.
Os
civis são realmente apresentados como um monte de saco de carne aqui, e
você ganha pontuação ao matá-los, mas não são de fato o desafio do
jogo, já que basicamente qualquer coisa que você faz, causa um dano
monstruoso neles. Ou seja, se você usa telecinese pra puxar, eles não
simplesmente vem voando, a coisa é brutal e eles são jogados com
violência em sua direção, se arrastando, perdendo membros e deixando um
rastro de sangue.
Sendo
assim, ao aparecerem policiais e outras defesas, você luta contra eles e
só vê a destruição rolando sem parar ao seu redor. Isso acaba se
intensificando com o fato de que tem um ambiente super destrutível que
te faz ver bem o caos indireto que causa em pessoas. Afinal de contas se
você pega uma viatura da polícia e arremessa, ela sai fazendo a
bagaceira em quem estiver na frente e você vê órgãos voando e pessoas se
arrastando sem perna, mas com o osso pendurado, entre outras
bizarrices. Se você gostou de ser um mago das trevas absurdamente
poderoso em Fictorum, certamente vai adorar esse.
O
jogo tem um modo normal em que você entra na simulação e deve matar
gente até chegar no nível 30, ganhando mais experiência se conseguir
fazer combos mais variados. Algo bem no estilo Devil May Cry, onde vai
aparecendo até a classificação na tela para mostrar a elegância que foi o
estrago que você fez ao lugar.
E
ele conta também com o modo sandbox, que é para quem não tem muita
paciência e quer um desafio maior ou menor. Isso porque você pode
colocar desde coisas mais simples, apenas para ficar vendo o caos por aí
enquanto corre em super velocidade e dá socos capazes de fazerem as
pessoas explodirem, mas também pode encher com todos os inimigos
possíveis e ver a tela virar um verdadeiro bullet hell.
Em
relação a áudio, ficou bacana a orquestra que foi colocada. Não é algo
assim que se destaque como trilha sonora, mas acho que foi melhor do que
uma música de aventura ou algo assim. O jogo não conta com dublagem,
são apenas personagens gritando pra lá e pra cá, então no geral é música
e som de explosões e carne sendo esmagada.
Acredito
que o desenvolvedor deve ter se baseado especialmente no Capitão
Pátria, até porque a série pode até ter começado meio tímida, mas quando
explodiu, logo vimos a Amazon Prime Video lançar o spin-off The Boys Diabolical,
e antes da estreia da quarta temporada, o spin-off Gen V já estava
sendo produzido em alta velocidade. Isso sem contar com o brutal mod do Homelander pra GTA 5, que introduziu bem a ideia disso tudo em um videogame. E também achei alguns tweets dele usando a hashtag #Homelander.
Eu
me pergunto se o Garth Ennis sonhou que chegaria esse nível, já que por
muitos anos ele ficou bastante preso ao fato de ser o criador de Preacher,
que por acaso também é bem polêmica e brutal também. Mas então criou
algo a nível de ficar mais popular e ainda despertar a atenção das
pessoas a ponto de inspirá-las a fazer coisas do tipo e do Herogasm virar falatório na internet.
Eu sei que já tivemos outras obras baseadas em quadrinhos que eram bem violentas, como Watchmen: The End is Nigh, que até faca você usa pra fazer os assassinatos, ou o badalado Injustice: Gods Among Us da NetherRealm Studios, que o Superman mata até criança e fez gerar a série em quadrinhos Injustiça
da DC Comics. Mas aqui acaba apresentando algo que realmente dá vontade
de controlar, com uma liberdade maior, em um ambiente onde o caos de
fato pode ser feito.
A
ideia de um ponto de vista diferente é algo que empolga muito, ainda
mais quando você vê que é um caminho sem volta. E Conquer Humanity acaba
levando a coisa para o nível além, já que convenhamos que quando se
assiste The Boys, é fácil pensar em quando o Homelander perderá a
paciência, e o que ele faria. Aqui você pode realmente fazer a coisa, e
normalmente nessas obras a coisa é meio limitada, como os jogos citados
no parágrafo anterior. Aqui você realmente vaga, e se cansou de um
lugar, pode voar em alta velocidade para outro.
Infelizmente no quesito história, o jogo não apresenta uma profundidade muito legal... Por exemplo, quando você vê Entre a Foice e o Martelo,
que reconta a história do Super Man durante a guerra fria, mas com ele
caindo na União Soviética, isso já é algo provocador. Quando você vê o
Peter Parker assassino que não quis se livrar do simbionte do Venom e
passou a arrancar pedaço de vilões em Homem-Aranha: A Sombra da Aranha,
isso é interessante. Mas quando é só o vilão malvado que quer dominar o
mundo, falta um tempero especial e acaba fazendo ficar muito nas
sombras de The Boys, ao invés de ter uma trama.
Outro problema no jogo, é que a quantidade de elementos na tela fizeram o jogo fechar algumas vezes. Quando tentei jogar no meu canal na Twitch,
ele fechou e eu não tentei ir muito à fundo porque meu PC não é dos
melhores também. No entanto, embora tenha rodado bem no meu computador,
vai se acumulando muita coisa na tela e chega a um ponto que de repente
fecha. Talvez a solução seja ir para outro canto. Vai saber, né?
Enfim,
heróis malvados e vilões descontrolados encantam. Já gerou muitas
histórias de fãs ao estilo webcomic, e acho bacana a coisa evoluir para
um jogo. Eu joguei Conquer Humanity em acesso antecipado, portanto
qualquer problema que citei pode ser corrigido pelo desenvolvedor. É um
jogo com muito potencial, mas que atualmente está mais para conceitual
mesmo. Vamos esperar e ver o que acontece! Devo atualizar esse texto no
futuro. Caso queira comprar jogos baratinhos, recomendo sempre dar uma
olhadinha no preços das keys da Steam (e outras lojas) à venda na GMG,
muitas vezes os preços deles estão bem abaixo do normal, e comprando
keys lá, você acumula XP, que gera várias vantagens como descontos
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