Existem vários filmes de coisas estranhas e assassinas, indo desde o Pneu Assassino até o Biscoito Assassino. E claro, essa não é uma tendência que surgiu após a virada do milênio em que o trash começou a ser idolatrado. Existem algumas obras que vieram direto da fonte, na era de ouro dos filmes trash, aquele período entre o fim dos anos 70 e começo dos 90. E no fim dessa era, surgiu The Refrigerator, em 1991, apresentando uma geladeira assassina.
A história apresenta o jovem casal Eileen e Steve Bateman, que estão começando suas vidas e procuram algum lugar para alugar. Acabam achando um apartamento localizado em uma quebrada e que por algum motivo o dono quer alugar desesperadamente, fazendo até mais barato do que o próprio casal chega a oferecer e assim garantindo. O local vem com alguns itens, e entre eles, uma geladeira velha e que faz sons estranhos.
Esse é um daqueles filmes que quem viveu na era do VHS, viu a capa na área de terror das locadoras de fita de vídeo e com certeza ao menos pegou para dar uma olhada em algo tão diferente, pois mesmo nos anos 90 a ideia era ridícula pra caramba. Mas claro, naquele tempo, o conceito de "trash" não era tão bem formado quanto atualmente, então não dava uma vontade tão grande de rir das coisas, era mais pra "Uma geladeira que mata? Como será isso?".
Era mais fácil rir se alguém falasse em voz alta uma ideia tão ridícula, tipo explicar pra sua mãe o que você iria assistir, hahaha. Mas o curioso é que por mais que seja um filme que pareça ter muita personalidade, ele não é original. Em 1984 nas Filipinas, começaram a publicar uma série de filmes antológicos de terror chamada "Shake, Rattle & Roll", e teve uma quantidade infinita de sequências, apresentando mais e mais histórias. Porém no primeiro volume, uma das histórias era chamada "Pridyider", que se tratava exatamente de uma geladeira possuída por um espírito.
E em 1987 o diretor Nicholas Jacobs começou a apresentar um conceito igual. Além de roteirista, ele foi diretor, sendo seu primeiro longa metragem, pois até então tinha atuado na área apenas um ano antes como assistente de diretor. É notável que existiu um esforço, já que quando o diretor é também o roteirista, se tem uma ligação maior com a coisa.
No entanto, uma das escolhas feitas para economizar no orçamento, foi não registrar o filme na MPAA (Motion Picture Association) para receber a classificação de idade. O resultado disso foi que não saiu nos cinemas, mas sim diretamente em fita cassete, e caiu tanto no mundo underground que nunca foi nem ao menos para DVD. A tranqueira só sumiu mesmo!
Levando em consideração isso tudo, é de se imaginar que o filme seja só o bagaço, com aquela carinha de que foi feito por estudantes, certo? Pois bem... Por incrível que pareça, o filme tem um produção relativamente decente. Assumo que fiquei impressionado de imediato pela quantidade de locações, com cenas muito variadas.
Se você ver algumas obras primas como A Hora do Lobo e A Bruxa, percebe logo que a quantidade de locações é baixíssima. Sendo o primeiro praticamente inteiro dentro de um apartamento, com pouquíssimas cenas que a personagem vai além, e o segundo em uma casa na frente de uma floresta, onde as filmagens são posicionadas em locais variados dessa mesma área.
O motivo é que, por mais que uma cena possa parecer simples, é bem mais complicada do que parece. Gravar um personagem andando na rua, por exemplo. Você não pode só fechar uma rua pública pra fechar, assim como você certamente não vai querer gravar o rosto de um monte de desconhecidos e arriscar tomar um processo.
Sendo assim, cenas que parecem bobinhas, podem custar uma verdadeira fortuna. E esse filme não economizou em mostrar coisas variadas, com a cena inicial já sendo um casal bêbado dirigindo um carro e gritando, chegando a atropelar um hidrante. E logo uma sequência enorme de cenas em locais variados são mostradas. Quem quer economizar normalmente não faz isso, portanto era impressionante.
Inclusive os efeitos práticas são decentes, eles não são mal feitos pra cacete. O trash da coisa está muito mais concentrado na péssima atuação e em algumas situações meio toscas e que mesmo assim não parecem ter sido propositais. Não existe por exemplo um foco no gore, como é muito normal em filme de terror trash.
Na real, tem bem poucas cenas da geladeira atacando e elas parecem ter tido a intenção de serem bem feitas, coisas que conseguiu e só fica engraçada por cauda da atuação tão ridícula especialmente dos coadjuvantes, e também porque é o diabo de uma geladeira matando uma pessoa, né? Não tem como algo assim causar muita tensão.
O diretor também tentou colocar uma leve crítica social sobre o consumismo ali, apresentando certos diálogos relacionados ao desespero do marido em crescer na vida. Coisas como o preço do aluguel e a vontade de ter o lugar pra ele, o item velho que ele não quer se desfazer e acaba consumindo a alma das pessoas, e assim vai...
No entanto, o filme mostra bem que foi feito por um iniciante e o cara não consegue concentrar a energia em nada. Ele faz um universo que se torna grande, com desenvolvimento dos personagens e vários elementos que fazem a coisa não parecer só alguém correndo de uma geladeira do começo ao fim. O problema é que ele concentra tanto nessas coisas, que não atinge o clímax em nada!
Por exemplo, existe um super foco no trabalho do cara, ele tentando puxar o saco do chefe, os problemas que tá enfrentando pra manter uma família e etc. E ao que isso leva? A nada... Se tirassem essas cenas não ia mudar o filme. Ele podia só chegar em casa dizendo "Foi um dia estressante" que daria na mesma.
Tem a mística misteriosa que vaga pelo lugar e já de primeira dá a dica para a esposa, dizendo que ela não deve se mudar para aquele lugar e então só some como se nunca estivesse ali. O motivo dela fazer isso? Nenhum... Depois de muito enrolar, a mulher só aparece numa boa e começa a abrir o bico sem parar.
Já a parte principal e que deveria ter um foco realmente grande, é lenta demaaais! Estou falando das cenas da geladeira. Ela não tem cenas que realmente causem uma tensão, normalmente é tudo muito bem iluminado, perdendo a chance de fazer mais cenas na escuridão, apenas com a iluminação da porta dela, que além de dar mais tensão, dariam mais charme também, já que as em que isso acontece se destacam. Além do mais, as cenas em que ataca são pouquíssimas.
O pior é que depois de enrolar muito em todas as partes, o diretor parece ter só desistido. Eu não sei se ele queria que o povo teorizasse a origem da geladeira ou o que foi aquilo, isso sem contar com a escolha de caminho a seguir que os que ficam vivos decidem tomar, que o diretor parece ter socado ali só pra terminar antes de aparecer um enorme "THE END" na tela.
Inclusive, para algo que no fim das contas é tão discreto, eu me pergunto o motivo de eles colocarem uma capa tão apelativa de algo nada a ver... A misteriosa moça mística seminua levitando enquanto a geladeira a atrai. Detalhe que é uma personagem extremamente cheia de roupas e que em momento algum ela mostra nada demais. Então de onde diabos veio essa mulher de calcinha? Parece resultado de um marketing desesperado hahaha.
Enfim, fiquei abismado desse filme custar 500 mil dólares! Apesar do valor ser muito adequado para a quantidade imensa de locações, presença de efeitos práticos e quantidade de figurantes, eu sempre olhei pra ele pensando que seria uma obra bem mais barata. Não é um filme que achei bom, mas não me arrependo de ter assistido. Acho que é aquele tipo de tosqueira louca que te provoca até você assistir, e ao menos essa vontade passou. Agora observe a qualidade da atuação da moça na janela enquanto vê alguém sendo assassinado brutalmente por uma geladeira possuída pelo Diabo:
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