Eu sei que não se deve julgar uma obra pela capa, mas convenhamos que uma capa bonita faz toda a diferença e realmente atrai. E foi exatamente isso que aconteceu com o filme "The Dark and the Wicked", lançado em 2020 pelo diretor Bryan Bertino, que é mais conhecido por ter feito "Os Estranhos", mas que fez uma série de filmes interessantes e por isso foi um filme de terror com um atrativo natural pra mim.
A história apresenta o casal de irmãos, Louise e Michael, que decide voltar para a fazendo da família no interior do Texas, pois o seu pai está muito doente. No entanto a mãe os recebe muito mal, dizendo que não deveriam ter voltado. E não demora nem um pouco para compreenderem que a irritação tinha um bom motivo e uma força poderosa está presente na casa.
A sensação que eu tenho, é que o diretor queria ter a sua própria versão de "Hereditário", apresentando um filme com clima pesadão e um ambiente macabro, não economizando na sensação amarga constante e te fazendo sentir que tem uma névoa o tempo todo, com algo terrível pronto para acontecer. No entanto, com o seu próprio tempero, o resultado não foi um novo "Hereditário", mas sim algo com aspecto mais pessoal.
Bertino já provou que gosta de coisas bem sombrias e da isolação de personagens de alguma forma, indo desde uma isolação total, como "The Monster" em que mãe e filha ficam em um carro quebrado com um diabo do lado de fora, até pessoas livres para ir à polícia, mas presas graças a ameaças, como vimos em "Mockingbird". E aqui temos um meio termo, onde o que prende os personagens é o amor pela família.
É bem fantástica a forma que ele trabalha o quão a ligação de alguém é forte, e o medo que ela conseguiria aguentar porque ama uma pessoa. Sendo assim, os personagens estão livres para irem embora no momento que quiserem, porém para fazer isso, terão que abandonar a pessoa que lhes criou, permitindo que fiquem à mercê da própria sorte.
O filme cria uma imersão maravilhosa, pois dá pra entender bem a escolha de certos personagens. É possível compreender o peso da mãe ao ficar horrorizada em ver os filhos, e a carga de medo cabulosa que eles recebem ao notarem o quanto a entidade que está diante deles é extremamente poderosa, podendo brincar à vontade sem temer a nada.
No entanto, o filme se afasta de obras como "A Bruxa" e acaba recebendo um toque semelhante a "A Morte do Demônio", ao adicionar certos elementos mais gráficos, que apesar de não serem absurdamente exagerados e nem chegarem ao ponto de ir para o trash, dá uma leveza a mais exatamente porque convenhamos que alguém fazendo algo "do mal" não é medonho, mas sim tosco.
Por exemplo, tem uma hora que a moça está tomando banho e o pai dela aparece bem na frente com um rosto super pálido e olhos esbranquiçados, e então começa a mexer a cabeça em super velocidade. A presença do pai ali parado é sinistra e pode dar um belo susto com a aparição, mas a parte da cabeça mexendo sem parar realmente é capaz de tornar a cena mais medonha? Ao meu ver só deixou tosco, ao estilo "VEJA COMO EU SOU DO MAL MINHA FILHA! HAHAHA, OLHA SÓ!".
Felizmente o diretor, que também é o roteirista, não exagerou nesse tipo de coisa, e não acaba com o filme, só que tira um pouco da credibilidade de algo mais realista, né? Ainda assim continuou um filme muito elegante, com uma carga de horror muito concentrada e que consegue criar atmosferas maravilhosas que transmitem pra você o que os personagens sentem.
Um desses momentos é quando o irmão diz que precisa trabalhar na fazenda, pois se eles não fazem nada, não vão ter como manter o lugar. E a irmã implora pra não ser deixada sozinha dentro da casa cuidando do pai, e é fácil se colocar no lugar dela. Já o irmão, no tempo que fica só, tem que encarar uma aparição terrível sozinho no celeiro.
A carga de tensão dos personagens só vai aumentando mais e mais, porque é notável que o ser colocado aqui não é como um demônio ou espírito padrão em que basta falar de Deus e ele começa a se remexer e vai embora. Parece mais uma criação do Junji Ito, com um ser completamente fora do controle humano, e que simplesmente continua a pressionar mais e mais, indo embora às vezes apenas porque quer e não porque foi expulso.
Achei a fotografia muito bonita, ao invés de seguir o típico padrão azulado fantasmagórico que filmes muito do mal usam, ela usa um tom mais vivo, porém não vivo como "Midsommar", uma cor viva mórbida, que ainda assim fica sombrio. Eu senti ele meio amarelado, talvez pelo tom de fazenda e muitas cenas diurnas, mas meu amigo comentou que achou mais para esverdeado. De qualquer forma é algo mais vivo, porém caiu bem aqui.
Fiquem atentos que esse é um daqueles filmes mais concentrados em atmosfera do que em explicar a história. Sendo assim, você vai ter que deduzir certas respostas, pois o foco é muito mais na sensação de um conto de terror terrível que aconteceu em um lugar isolado do que em uma história toda detalhada sobre motivos e consequências.
Enfim, ótimo filme pra se assistir com um amigo à noite. História com terror bem carregado e atmosfera realmente gostosa. Para quem não é acostumado com o gênero, certamente terá bons sustos, já para quem é acostumado... Bom, não dá pra dizer que fã de filme de terror leva susto com filmes, né? Mas você respeita quando sente a qualidade, e eu senti bastante nessa. E vocês, assistiram? Concordam? Ou acharam só a bagaceira?
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