Esse é um filme que acho engraçado como se tornou polêmico de uma forma fácil demais. Reapresentando o universo de Predador, mas dessa vez localizado em um ambiente muito diferente, o século XVIII. Mas que no fim das contas acabou acumulando uma gritaria descontrolada na internet, com pessoas iradas umas com as outras. E claro, eu tinha que dar uma assistida, portanto chegou a hora da review!
A história se passa no ano 1719, na área selvagem dos Estados Unidos. Tem foco em uma tribo de índios comanche, onde uma garota chamada Naru foi especializada como curandeira. No entanto ela tenta se provar como caçadora. E quando um felino aparece e ataca um dos membros, ela é a única que identifica pistas que indicam que um caçador mais perigoso está presente.
Antes de tudo, eu tenho que dizer que lamento tanto que não traduziram o nome original "Prey" (Presa em inglês), ficaria tão legal esse contraste com a franquia "Predator". Até porque "Alien vs Predador" é uma franquia própria, e esse filme também foi feito para ser como uma franquia nova, porém adaptado no passado. Acho que cairia muito bem...
Bom... Esse é um filme que me impressionou a quantidade de gritaria que deu. Cada vez que saiam fotos ou pôsteres novos e eu divulgava no Facebook Nerd Maldito, rolava um escândalo lá. A coisa virou uma verdadeira disputa ideológica de forma que me surpreendeu bastante especialmente porque me pareceu só mais outro filmes.
Por um lado, pessoas estavam iradas dizendo que uma índia não podia vencer o Predador, pois ela era fraca e sem tecnologia para conseguir, e isso foi forçado especialmente para se encaixar em agenda política, pois jamais aconteceria no passado. Por outro lado, um grupo defendia e dizia que no primeiro filme, força bruta e tecnologia não adiantavam de nada e o Major Alan "Dutch" Schaefer (Personagem do Arnold Schwarzenegger) teve que recorrer a armadilhas rústicas pra vencer o bicho, que por sua vez se limitava pra igualar o combate.
No fim das contas, ficou claro que não importa o quanto o filme fosse épico e perfeito, muitas pessoas foram assistir ele já achando uma merda e só fizeram pra poder descer o pau na internet e ridicularizar, julgando cada coisa que aparecesse da forma mais rígida possível. Da mesma forma, muitas pessoas se viram de forma totalmente defensiva, precisando dar colher de chá pra tudo, por mais bosta que o filme fosse.
Não deu outra... O filme conseguiu notas altíssimas do público no Rotten Tomatoes, e ainda mais alta da crítica. E enquanto um lado comemorava estar "certo" com sua opinião, a resposta do outro lado para isso, foi que era uma fraude... E que as notas não eram verdadeiras, mas sim grupos fraudando elas para poder dizer que filme era bom. E claro... A treta continuou.
Eu fui assistir o filme no primeiro dia, antes de ver as notas que estavam dando e muito menos o que sites estavam falando. Eu já falei aqui sobre a emoção de assistir um filme sem saber nada sobre, e embora nem sempre isso seja possível, eu gosto de evitar informações pra poder tirar mais proveito do que vou assistir.
Também costumo ignorar completamente a opinião dos outros, pois já vi coisas absurdas como um cara descendo o pau em Death Stranding, porque todo mundo estava falando mal, e recomendando a não jogar porque "era péssimo", e depois ele acabou sendo convencido e jogar e... Adivinha? Ele adorou. Ou seja... E toda a galera que ele recomendou não jogar e acreditaram?
Pois é... Acho que é fácil demais achar "opiniões" que não são da pessoa ou que ela não entendeu, tipo "A Vila", filme que acho maravilhoso, já vi várias pessoas descendo o pau, e quando fui questionar, a pessoa nem entendeu, nem observou os detalhes e dicas deixados ao longo da história que eram essenciais para o final. Nem nada! Então não tem como gente... Ou como é o caso de "O Predador: A Caçada", cheio de gente dizendo que você tinha ou não tinha que gostar.
Primeiramente, tenho que dizer que eu adorei a ideia e ambientação diferente. Acho naturalmente atraente o contraste de um personagem futurístico indo para um tempo bem mais limitado e piorando ainda mais por ser em uma região remota do mundo. Inclusive tem um filme muito parecido, chamado "Outlander" que sempre pareceu um filme do predador na era viking e que eu adorei.
Eu vi muitas críticas relacionadas à tecnologia e visivelmente são de pessoas que não sabem muito sobre o vilão e sua cultura. Mas a verdade é que o Predador já foi muito explorado fora do cinema, ele aparece em quadrinhos, em livros, em jogos... E o desenvolvimento foi muito maior do que meramente um monstrão que vem matar gente na terra.
Inclusive vi um cara reclamando e dizendo que o filme era ridículo porque mudaram o rosto dele e nem parecia mais ser o Predador. E é preciso ressaltar que não existe apenas um Predador, ele não é o Jason e o Freddy Krueger que vão para o inferno e voltam direto. É a raça dos Yautja, e são guerreiros que vão a outros mundos pra enfrentar a criatura mais cabulosa que conseguirem.
Na cultura da raça dos predadores, isso é usado como ritual de passagem, seja um jovem guerreiro sendo colocado em teste, seja pra tentar subir em seu cargo e ganhar status em seu mundo. Assim como pode ser também por outros motivos, como treinar ou apenas se divertir. (Aliás, imagina que incrível seria um jogo que gera mundos aleatórios e você é um Predador tendo que ir até o lugar pra localizar e caçar o mais forte? XD).
Sendo assim, não tem essa de "Mudaram o rosto do predador", eles são vários predadores, com visuais próprios e fisionomias próprias e clãs próprios que tem suas próprias culturas. Inclusive tem variações da raça, como vemos em "O Predador" de 2018, onde é possível ver dois tipos de predadores que entram em combate entre si.
Dito isso, eu assumo que não esperava nada desse filme. Quero dizer... Convenhamos né galera? Já viram o quanto essa franquia ficou desgastada? Eu acho que a criatura é maior que os filmes em si. Toda a cultura criada para a raça dos predadores se mostra muito mais interessante do que outro filme de algum infeliz sendo caçado e ser o mesmo, fugindo, lutando, fugindo mais um pouco, lutando mais... E assim até matar. É o tipo de filme naturalmente previsível, então tinha o que pra esperar de outro filme do Predador?
Acredito inclusive que boa parte das pessoas tem muito mais memória afetiva por causa do personagem, do que realmente alguma sensação de "Nossa, eu me divertir DEMAIS assistindo aquele filme do Predador... O protagonista é perseguido do começo ao fim, até que ele mata o bicho! Que coisa boa!". No meu caso, desde que vi a Dragão Brasil com o RPG de Mesa de Alien Vs Predador, me apaixonei pelo universo, já nos jogos tem a emoção de se você. Mas nos filmes mesmo, não tem nada demais.
E levando em conta que parece que ninguém tá nem aí pra mitologia dele no cinema e só querem um monstro matando gente, só piorava. Vide o filme anterior a esse, que colocaram um moleque de 8 anos trabalhando como "hacker" em uma agência secreta especializada em alienígenas. Terem aprovado uma ideia de desenho animado dessas, mostra como para o povo do cinema tanto faz a história, eles só querem explosões.
Portanto, o que eu esperava desse filme era a ideia mais óbvia de todas. Ou seja, o que eu imaginava era... Uma índia que vive feliz com seus familiares, sendo sensível e medrosa, nunca tendo lutado na vida, até que o Predador cai do céu, mata todo mundo, sendo ela a única sobrevivente. Isso a obrigaria a ter que finalmente se virar sozinha e assim começar matar o bichão. FIM!
E convenhamos, apesar do horror/ficção científica, em essência é um filme de ação... Sabemos vem que os produtores parecem não ligar em nada. Em um mundo onde gastam U$200 milhões pra fazer um filme como Agente Oculto, que só pegaram todas as cenas de ação já feitas e refizeram, imagina um filme do Predador, que não tinha dignidade nenhuma a perder mais?
Felizmente não foi bem assim a coisa, embora a história não fosse inovadora, ela teve um elemento que eu não esperava, que era a variação nos acontecimentos. Não se resumiu meramente a correr, lutar, correr, lutar... Rolaram situações novas que deram um toque mais agradável à coisa, indo desde a investigação no começo que dá aquele toque meio misterioso, até a chegada de novos personagens que deram um novo fôlego à coisa.
Nessa variação eu gostei de ver o quanto são usados "recursos" diferentes pra tentar enfrentar a ameaça, explorando mais dos tipos de pessoas que existiam na época em que o filme foi ambientado. Também foi uma ótima forma de deixar mais brutal, e inclusive tem um ótimo easter egg de Predador 2, se você prestar atenção.
A direção é decente pra caramba, curiosamente sendo o segundo filme do diretor Dan Trachtenberg, que anteriormente só tinha feito o maravilhoso longa metragem Rua Cloverfield, 10, e na TV apenas fez alguns episódios de poucas séries como The Boys e Black Mirror. O cara se mostrou bastante competente e aqui dá pra ver que no geral é um filme que ficou visualmente bonito, apesar das limitações de ter sido feito pra streaming (O Hulu e saindo no Star+ no Brasil).
O Predador ficou bem escrito em relação à cultura, e é notável que utilizaram a mitologia dele de forma adequada. Ele não é um monstrengão matando sem parar e sem pensar. Você vê que colocaram o conceito de honra, com ele focando em atacar o mais forte, porque é exatamente esse o objetivo para se realmente conseguir o status que busca.
Em relação a a ser forçado uma personagem feminina contra o Predador. Bom, eu acho isso uma besteira... Filme de ação é naturalmente forçado... Convenhamos, né? Filmes com personagens homens matando 100 caras e fazendo parece tão natural. Vendo filmes antigos como Tomb Raider ou a Mulher Gato de "Batman: O Retorno", elas faziam umas bagaceiras impossíveis e ninguém tava nem aí.
Então acho que a gritaria desse filme é mais fruto de brigas ideológicas do que qualquer coisa, porque se aplicar regras tão rígidas em qualquer filme de ação, quantos iriam sobrar? Será que os protagonistas homens iriam sobreviver se as regras do mundo real fossem aplicadas e eles fossem colocados pra pular de um avião? Isso parece normal pra vocês?
E a personagem ainda toma um monte de porrada pra conseguir vencer, sendo assim, levando em consideração o quanto filmes de ação são exagerados, me pareceu ok. Eu realmente não entendi o motivo desse título em especial ter sido alvo da gritaria sobre ser um filme ligado a ideologia. Eu acho que tem inúmeros outros títulos que tem muito mais a ver com isso de representatividade.
Imagino que o falatório tenha mais a ver com ser um fruto de sua época. No caso a personagem ser mulher e ser índia, acabou não passando no "filtro" que muitas pessoas usam pra analisar a coisa, pois sério... Colocar lógica em um uma pessoa enfrentando um ET em um filme de ação é pedir demais, né? Acredito que se esse filme fosse lançado nos anos 90 quando não tinha esse filtro, ninguém ia estar nem aí, assim como acredito que se ninguém soubesse da existência de Mulan e a animação de 1998 fosse lançada hoje ia ser um verdadeiro escândalo.
Eu acho algo meio bizarra a gritaria em relação a esse filme especialmente porque tem tantas outras obras que está tão mais claramente a representatividade. Como por exemplo Sense8, que tá bem óbvio que a representatividade faz parte do roteiro. Mas nesse caso aí é só uma mulher índia, meio que precisa mesmo dessa gritaria? Tanto faz...
O que deve ser feito então? Nunca mais usar uma mulher, índia, gay, negro como protagonista? Porque ao menos ao meu ver, tem uma tonelada de obras que a representatividade é absurdamente gritante de verdade, e essa aí é só mais um filme que seria normal nos anos 90. Eu acredito que se for pra usar esse filtro tão cabuloso por algo tão pequeno assim, só vai sobrar o Rambo.
Apesar de tudo, esse não é um filme perfeito, começando pelo Predador, que embora seja louvável ter deixado explícito os aspectos culturais sendo usados. O nível de incompetência da criatura foi desnecessário e fez algo que poderia ser perfeito, parecer soluções preguiçosas do roteirista. Talvez ele seja um jovem predador em ritual de passagem, mas poxa... AQUELA CENA do dano que ele mesmo se causou no braço é brincadeira, né? Achei falta de criatividade do roteirista.
O mesmo relacionado acontece em uma cena que ela sobe nos ombros dele e o cara fica só balançando pra lá e pra cá, igual um boneco de massa dos Power Rangers esperando a hora de ser vencido. E então ela salta fora. Essa cena poderia ficar facilmente mais convincente se ele pegasse ela e arremessasse pra longe.
Outra cena, e essa eu acho que foi a pior pra manchar a coisa, foi a mulher meter a mão em uma das presas do predador e arrancar... Não tem osso não? É simples assim? Especialmente porque na mesma cena é mostrado o quão afiado o negócio é. Pô... Ela podia ter pego um toco de madeira no canto, né? Eu sei que filmes de ação tem coisas exageradas, mas essas tosqueirinhas tão convenientes em especial na luta contra ele poderiam mesmo ter sido evitadas e deixado a coisa bem mais elegante.
Também achei tristemente forçada a forma que ela derrota o Predador. Sem spoilers, mas achei tudo muito calculado e perfeitinho, o que torna a coisa bem tosca, especialmente porque eles criaram uma situação que já daria pra vencer ele e ter um sentido, mas resolveram forçar um pouco mais e ficou aquela sensação de que ela calculou milimetricamente a posição certa de tudo, enquanto se só tirassem essa cena e deixassem a "derrota" do plano anterior, ficaria bem mais legal.
Mas sem sombra de dúvidas, a coisa que eu menos gostei foi a forma da protagonista e seu irmão Taabe se comunicarem. Enquanto com o resto da tribo parece algo que dá um toque tribal mesmo, com os dois, facilmente poderia ser um diálogo colocado entre adolescentes no shopping. Com destaque pra cena deles caçando a água. Parece descolado demais... Algo curioso é que o elenco é realmente indígena, A atriz Amber Midthunder é membro da tribo Fort Peck Sioux.
Enfim, "O Predador: A Caçada" é um filme que infelizmente não importa se é bom ou não... Muita gente já vai assistir escolhendo o que achou independente se é um lixo ou maravilhoso. No meu caso, ofereceu mais do que eu esperava. Não é algo do tipo obra prima inesquecível, mas sendo um filme de ação de uma franquia tão desgastada onde qualquer coisa poderia acontecer, eu acho que a produção fez um ótimo trabalho, com boa variação de cenas e um ambiente atmosférico. Tem seus erros e problemas, mas com maior quantidade de acertos.
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