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Máscaras do Terror | Filme de terror que fez diretor ir pra cadeia por polêmicas com ator

Eu fui assistir um filme com um amigo e acabamos indo parar em um longa-metragem de 1989 chamado Clownhouse (Máscaras do Terror ou Palhaço Assassino). E apesar de não ser o que procurávamos, resolvemos ver de qualquer forma, afinal de contas eu já falei aqui sobre a emoção de assistir filmes sem saber de nada. O resultado foi realmente um pacote de surpresas que eu definitivamente não esperava, inclusive as polêmicas da produção terem feito o diretor ir pra cadeia.

A história é focada em Randy, Geoffrey e Casey, o caçula que tem um medo inexplicável de palhaços. E quando um circo resolve visitar a cidade, o garoto acaba tendo que ir acompanhado dos irmãos, precisando confrontar seus medos. No entanto, ocorre uma fuga de uma clínica de pessoas com transtornos mentais. E três desses ficam encantados com o circo, atacando, matando os palhaços e pegando suas roupas para então vagar pela cidade e ir parar exatamente na casa dos garotos.
Já digo que esse filme em uma visão geral não me impressionou, no entanto é daquelas obras que tem vários pequenos elementos interessantes que conseguem chamar a atenção. Pra falar a verdade, se tivesse recebido alguns pequenos ajustes, poderia ser uma verdadeira obra prima do terror, já que tem aspectos realmente muito superiores à maioria dos filmes do gênero. E apesar de não ter me impressionado, eu não o classificaria como genérico, mas sim como um filme com ótimos elementos, mas com falta de um "tempero".

Pra começar, é curioso como o filme abandona o estilo slasher padrão, que é tão clichê em obras dos anos 80, que qualquer filme com pessoas sendo perseguidas já pode ser extremamente previsível. Tem técnicas usadas em Sexta-Feira 13 e Chamas da Morte, que são simplesmente muito padrão e você vê que é um estilo bem próprio de obras do gênero. Mas aqui, os vilões não são usados em uma correria e matança sem fim.
Ao invés disso, o roteirista fez algo curioso, que é uma simulação do medo. Ele tenta transmitir de forma visual aquela sensação inexplicável de que algo vai acontecer e que o horror está por perto. A forma que ele faz isso é praticamente não colocando contato algum com os garotos por praticamente todo o filme. Isso pode dar cansaço em muita gente ao assistir, mas se você olhar de uma forma mais profunda, foi uma baita técnica interessante. Em um dos diálogos o protagonista chega a tentar descrever essa sensação, falando que sabe que os palhaços só são pessoas, mas é como se ele estivesse olhando pra além disso.

Então nós vemos os palhaços atrás da porta, pela janela, em vultos momentâneos, mas fica nesse suspense. Não existe um foco em ter aquele suspense e ataque como é tão comum nesses filmes. E outra forma disso ser simbolizado é colocando os personagens para acharem que foi só impressão. Em especial Casey, que é tão apavorado e os irmãos já lhe falaram que é a imaginação. Sendo assim às vezes ele olha e mantém contato visual direto, mas não fala para os irmãos, só fecha os olhos ou desvia o olhar e realmente acredita que é só sua mente.
Outra técnica interessante que causa horror, são as ótimas cenas de perseguição. Elas acontecem sem os personagens saberem. Então o foco é assustar o público sem os irmãos notarem que quase foram pegos. Cenas como fecharem a porta no momento exato, ou correrem usando toda sua força com os palhaços colados neles, conseguem gerar de forma magnífica aquele medinho que temos de ir ao ponto da casa sozinho à noite, algo sem ver, mas que sentimos que está lá. A frase "Um Circo da Mente" usada na publicidade caiu muito bem.

As técnicas usadas na fotografia do filme também são magníficas e você sente que é algo de alto nível. Usando ângulos interessantes, técnicas com sombras super bem posicionadas e formas de esconder elementos para serem revelados no momento exato. É um filme com uma atmosfera noturna extremamente gostosa e que passa bem a sensação do horror que ronda pela noite.
A construção dos personagens é mista. Por um lado é bem vagabunda, apresentando os moleques se zoando do começo ao fim do filme, de forma bem genérica. Especialmente o irmão mais velho, Randy, que age feito uma criança valentona de 8 anos. Certamente naquela época o público não sentia tanto, mas para tempos modernos, a forma de agir dos personagens é datada demais.

Por outro lado, são apresentados aspectos fantásticos que só me fizeram lamentas não serem os dominantes. Estou falando da conexão dos irmãos, que mostra um amor real e é um contraste total. Por exemplo em um momento, Randy percebe o pavor de Casey, que ele não para de zoar, e relutante decide segurar na mão do irmão pra irem pra casa, assim como se irrita quando uma vidente assusta o caçula. Ao mesmo tempo, Geoffrey, o irmão do medo, se mostra preocupado de uma forma extremamente genuína com o caçula, que por sua vez, mesmo sendo infernizado pelo mais velho, mostra que quer salvar o irmão.
A mesma boa construção é apresentada em outros momentos inesperados, como os verdadeiros palhaços do circo, retirando a maquiagem e conversando sobre como apavoraram uma criancinha e que foi esquisito aquilo, já que a maioria gosta de subir ao palco. Enquanto outro explica que apesar de tudo não é incomum e tem algumas delas que ficam apavoradas. O diálogo  tem suas tosqueiras, mas no geral é o tipo de personagem que nesses filmes são 100% caricatos.

Agora uma coisa curiosa que comentei com meu amigo enquanto assistíamos, foi que o diretor desse filme deveria ser um pervertido. Eu falei isso bem mais pra frente, quando o terceiro irmão aparece seminu, o que não seria nada demais se os outros dois já não tivessem aparecido também. Na hora eu falei por algo, mas vendo depois, vi que realmente era o caso!
Já na primeira cena aparece Casey aparece só com a parte de baixo do pijama e a câmera filmando de cima a baixo. Na cena seguinte, Geoffrey entra só de cueca no quarto, para então Casey se mostrar nu de costas, aparecendo a bunda pra então vestir uma cueca e então ficar de frente. Depois ambos aparecem tomando banho. E mais pra frente, que foi quando comentei com meu amigo, aparece Randy deitado no chão só de cueca.

Poderia ser só uma coincidência colocar todos os protagonistas seminus, certo? Bom, poderia... Mas depois fui pesquisar sobre o filme e vi que quem fez ele foi o Victor Salva, que é ninguém menos que o diretor do épico Olhos Famintos, e eu não tinha a mínima ideia de que eu estava assistindo nada menos do que o primeiro longa metragem desse diretor (Foto dele aí embaixo).
Só que tem um porém... Eu já tinha ouvido falar desse diretor ter problemas relacionados a pedofilia, mas nunca fui atrás pra saber exatamente o que era, e agora tudo ficou evidente. Como vocês sabem, Olhos Famintos 2 também foi um sucesso, enquanto Olhos Famintos 3 é uma desgraça inacreditável e tinham me falado que o que comprometeu o filme tanto foi exatamente o fato de que seus problemas com a justiça fizeram a produção ser só a bagaceira.

Tudo começou em 1986, quando o diretor fez o curta metragem "Something in the Basement" (Algo no porão), com o ator mirim Nathan Forrest Winters, de 10 anos. O negócio deixou Francis Ford Coppola, diretor de "O Poderoso Chefão" impressionado, e assim ele deu 250 mil dólares para Victor Salva e forneceu sua mansão para filmar um longa.
 

Victor já tinha criado laços com os pais do ator mirim e o chamou para estrelar em seu primeiro longa metragem. Sendo assim, Nathan ganhou o papel de Casey em Máscaras do Terror. Na época das gravações o garoto tinha 12 anos e acabou sofrendo abuso do diretor, que chegou a filmar. Ele foi julgado e condenado a 3 anos de prisão, sendo solto em liberdade condicional após 15 meses preso.
 
Esse escândalo fez com que o filme acabasse caindo na obscuridade e se tornando algo underground. Também foi algo que acabou com a carreira do ator mirim, sendo que conseguiu despertar a ira de Coppola, que inclusive tentou processar ele por quebra de contrato. E no mesmo tempo lhe avisaram que ele nunca mais iria participar da indústria de novo.

Não é incomum acontecerem escândalos na indústria, no entanto esse foi um filme que foi algo realmente caótico. Mesmo o filme do Spielberg que resultou na morte de três atores decapitados não teve consequências tão graves. Mas esse aqui, dá pra dizer que foi o puro caos, fazendo com que o filme simplesmente desaparecesse do mapa e o diretor fosse parar na cadeia.

Bom, como falei no início, não é um filme que olhando como o todo, me impressionou. Mas ele é cheio de elementos extremamente interessantes que poderiam ter colocado ele como obra prima se tivessem melhorado outros aspectos. Mas é uma obra que gera uma atmosfera intensa de uma noite de ventania, perfeito pra passar o tempo em uma noite de fim de semana que você quer apenas sentir uma atmosfera de horror.

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