A primeira vez que assisti "O Sexto Sentido", foi na época de estreia dele em 1999, nos cinemas, quando eu era um menininho e inclusive me surpreendi agora ao ver que a classificação indicativa é apenas 12 anos. Eu sei que não é um filme gore, mas o horror psicológico presente tem potencial de causar muito mais impacto em uma criança. Felizmente não fui dessas e agora vou fazer uma review, após assistir pela segunda vez, mais de duas décadas depois.
A história é sobre um psicólogo infantil chamado Malcolm Crowe, que acaba ficando traumatizado quando um de seus antigos pacientes volta anos depois, invade sua casa, lhe dá um tiro e então se mata. Isso o deixa desesperado para poder ajudar alguém de verdade, e um ano depois conhece Cole Sear, um menino de 8 anos com problemas em se socializar, mas que esconde um segredo muito macabro.
É engraçado como esse filme parece ter como obrigação que a pessoa assista novamente. Isso porque na primeira vez você apenas vê a história e deixa a coisa rolar, aproveitando o suspense e climinha macabro, esperando se assustar com alguma bizarrice que aparecer. Mas na segunda vez, a coisa é completamente diferente e você passa a olhar os detalhes com outros olhos.
E inclusive, achei maravilhoso ver a delicadeza em que tudo foi construído, pois assisti com um amigo que nunca tinha visto, apenas olhado a tonelada de meme que tem por aí e cenas soltadas aleatoriamente. E claro, fiquei de bico calado, mas sempre impressionado com cada momento, com coisas que na primeira vez eu simplesmente não via. E ao terminar, em que finalmente pude comentar com ele, é que percebi que realmente só eu estava vendo esses detalhes que pareciam escrachados na tela.
O horror construído no filme não é algo focado na gritaria e correria, e muito menos em jump scare, mas sim em algo lento e macabro, como a sensação de que tem alguma coisa no escuro e você não pode ver. Isso só torna a coisa mais assustadora, usando bem o medo do desconhecido e com uma atmosfera que lembra "O Iluminado", com uma história de um garoto bem semelhante que facilmente se encaixaria no mesmo universo.
O mais bacana é ver como se trata de uma história em cima de outra história. Na primeira vez que você assiste, provavelmente não percebe, mas na segunda, começa a observar os elementos da segunda história ali presente. Isso causa aquela sensação de algo extremamente robusto, gerando aquela satisfação imensa de final de filme.
O ritmo do filme é diferente do que eu lembrava, pois na minha cabeça
era algo menos dramático e mais agitado. No entanto realmente é algo que
consegue facilmente se encaixar no gênero drama, mostrando que é um
terror realmente elegante, com diálogos sólidos e uma história que além
do horror sobrenatural, também mostra a dificuldade do tratamento de
alguém com um problema tão grande.
Inclusive, graças a isso, esse foi um dos poucos filmes de terror indicados ao Oscar. Normalmente essa categoria é marginalizada, exatamente por costumar ser só a bagaceira, além de atrair um público de nicho, já que muita gente apenas ignora esse gênero, pois tem medo ou simplesmente acha bobo demais ver monstrões.
Mas esse foi um estouro, inclusive foi o filme de terror mais rentável de todos os tempos por quase duas décadas. Ele conseguiu arrecadar US$ 672 milhões de dólares e somente em 2017 com "It: A Coisa", que foi desbancado e isso provavelmente só aconteceu porque esse último teve um apelo comercial imenso com a nostalgia dos filmes de aventura dos anos 80 em sua estética e a presença de um dos protagonistas de "Stranger Things".
Esse foi o filme que fez a carreira do M. Night Shyamalan disparar e se moldar. Até então ele só tinha publicado dois longas-metragens de comédia. Depois disso tudo mudou e passamos a ver obras com atmosferas semelhantes, contendo um mistério inicial intrigante que se mantém no filme inteiro e sendo finalizado por um plot twist. Filmes como "A Vila", "Fim dos Tempos" e "Demônio" carregam esse padrão.
Mas não apenas o diretor, esse filme acabou inspirando uma onda de longas-metragens com plot twists, e durante um tempo, as pessoas queriam sentir mais daquilo, portanto começou uma onda de filmes com reviravoltas prontas para impressionar o público. Alguns não eram nada demais, porém outros conseguiram mostrar seu charme.
O Sexto Sentido também foi o longa metragem que emplacou a carreira do ator Haley Joel Osment, que em apenas dois anos estaria estreando A.I. Inteligência Artificial do Steven Spielberg. E por algum tempo foi um destaque, inclusive é conhecido por muitos até hoje como "O menininho do Sexto Sentido", e não por seu nome.
Enfim, tá aí um filme obrigatório para fãs do gênero terror e que vejo que muita gente não assistiu e só conhece os memes com o garoto falando "Eu vejo gente morta", mas que realmente é uma obra que vale bastante o tempo, especialmente se for aquela noite calma em que você quer assistir algo mais robusto.
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