Esse é um jogo que posso dizer que foi um verdadeiro sonho zerar. Digo isso porque desde que zerei Fahrenheit (Indigo Prophecy) em 2005, me apaixonei pelo trabalho da Quantic Dream e ao ver Heavy Rain ser anunciado, fui à loucura. A frustração com a exclusividade do PS3 em 2010 era simplesmente sem palavras, ainda mais que eu sabia que um jogo parado assim combinava muito mais com o público de PC da época. O jogo foi lançado pra PC em 2020 e finalmente no fim de 2021, tive a oportunidade de dar uma conferida.
A história se passa em 2011 e assim como o jogo anterior da empresa, esse também apresenta vários personagens controláveis. Todos estão de alguma forma conectados a um serial killer conhecido como "Assassino do Origami", que ganhou esse nome por deixar um origami nas mãos das crianças que ele mata e uma orquídea no peito.
O personagem foco do jogo, provavelmente é Ethan Mars, um pai que perde seu filho Jason em um terrível acidente. Isso acaba com sua família, gerando a separação de sua esposa, Grace. Dois anos depois do acidente, ele acaba tendo vendo o seu outro filho, Shaun, também desaparecer. Em desespero, ele começa a desconfiar que se trata do Assassino do Origami. Sua jornada o faz cruzar o caminho de Madison Paige, uma misteriosa mulher que por algum motivo, decide ajudá-lo com frequência.
A polícia investiga fervorosamente o caso, e isso faz com que o agente especial do FBI, Norman Jayden, seja enviado como apoio. Ele usa um óculos de realidade virtual conhecido como ARI (Added Reality Interface), para visualizar evidências e acessar arquivos salvos usando realidade virtual. No entanto, seu estilo excêntrico de decifrar a mente do assassino o faz entrar em conflito constante com o bruto tenente Carter Blake, que é um tipo de antagonista.
Alguns dos pais das vítimas ficam inconformados com a falta de progresso da polícia, e eles mesmos decidem contratar um detetive particular. E assim entram em contato com o ex-policial, Scott Shelby. Em suas investigações, ele acaba acompanhado de uma garota de programa e mãe de um dos meninos mortos, Lauren Winter, que se mostra muito útil.
O jogo é apresentado em forma de capítulos e assim, cada vez que um começa, você tem um pedaço da história, apresentando o ponto de vista de um deles. Enquanto às vezes você precisa cumprir as exigências cabulosas do assassino no papel de Ethan, em outras você usa a tecnologia do óculos de Norman para investigar um local e tentar pegar o máximo possível de provas.
Esse jogo tem um estilo de controles peculiar. Enquanto a essência dele é semelhante à de clássicos jogos point and click como Bluebird of Hapiness, The Terrible Old Man e The Last Door. Ou seja, aqueles jogos mais investigativos em que você é colocado em ambientes e precisa observar o cenário, coletar itens e usar em outros locais pra poder passar. Mas é uma versão evoluída, indo além de só apontar e clicar, mas te colocando para controlar diretamente e fazer as ações no controle.
Dá um certo toque de complexidade usar os movimentos para fazer ações. Isso porque cada tipo de movimento exige que você mova os controles de uma maneira própria. Não basta clicar ou arrastar. Se aparece uma seta pra baixo, significa que você tem que segurar o botão e ir segurando cada novo que aparecer. Se aparece um símbolo tracejado, significa que você terá que fazer aquilo com muita delicadeza porque se fizer rápido, erra.
Além dessas, existem várias outras formas que o jogo te coloca pra fazer coisas. Isso com certeza dá uma elegância à coisa, mas em alguns momentos chega a ser ridículo. Tem coisas muito simples que o jogo fica te colocando para fazer algo mais complexo e que seria até ok fazer alguns movimentos para simular as mãos do personagem, mas quando você erra várias vezes, é infame.
Em especial, o problema está nos controles do jogo que são uma desgraça. No começo eu passei vários minutos tentando me sentar. Tiveram diversas coisas que eu simplesmente não tinha o que fazer além de contar com a sorte. Cheguei a baixar a demo do jogo só pra fazer o tutorial de novo e ver se eu não estava fazendo direito. Mas não! É horrível mesmo, vi depois nos fóruns várias pessoas com esses problemas e desisti de usar o controle para ir para o mouse e teclado, onde está tudo bem mais decente, porém ainda problemático.
Mas realmente o foco está bem mais na narrativa que na jogabilidade. Você percebe muito bem que é um jogo semelhante a filmes de suspense bem intrigantes. Inclusive vi muitos elementos que deixam a atmosfera parecida com o filme Identidade. Aquele suspense psicológico e a presença de um serial killer e uma chuva forte é bem peculiar.
Com o sistema de escolhas e os pedidos do assassino, tem diversos momentos em que o jogo lembra demais o universo de Jogos Mortais, colocando o personagem para fazer decisões realmente dolorosas. Inclusive a adaptação de SAW pra video game, foi lançado na mesma época do lançamento da versão original de Heavy Rain, então imagino que deve ter rolado alguma comparação.
A narrativa é absurdamente cinematográfica e os ambientes são super detalhados. Achei bacana demais como trataram elementos distantes para dar uma sensação de algo vivo. Por exemplo, no começo do jogo em que o personagem está dentro da casa e dá pra ver o lado de fora, é possível observar pessoas passeando pela rua e carros passando.
Toda a ambientação é cheia de elementos e deixa a coisa mais viva, no entanto é notável que existe um preço a se pagar e algumas vezes rolava uma demora em carregar o lugar, mesmo não sendo um cenário muito grande. Não era algo insuportável, mas para um jogo de 2010, foi meio que notável... Mesmo sabendo que rolou um upgrade gráfico.
Aliás, os gráficos são visivelmente velhos, mas ainda assim bonitos. Tem certos elementos, como os efeitos de reflexo nos espelhos que são super elegantes na prática. Inclusive as telas de carregamento são sempre mostrando o rosto do protagonista do momento bem de pertinho. E assim você pode observar os poros de seu rosto e os reflexos de seus olhos. Notavelmente isso foi feito pra você admirar a beleza dos detalhes.
Apesar de muitas vezes as escolhas claramente darem no mesmo resultado, também é notável que evoluíram muito desde o jogo anterior. E você pode ver coisas como tentar curar as feridas de Ethan usando a Madson, e se não conseguir, no capítulo seguinte, você se atrapalha todo com ele por estar todo dolorido. E dá pra ver que são escolhas que mudam as coisas porque o jogo tem nada menos do que 17 finais!
O jogo é de uma época em que ainda não era muito padrão a dublagem em português brasileiro. Eu sei que é lógico que já existiam jogos bem mais antigos com dublagem, tipo Soul Reaver e Max Payne, no entanto Heavy Rain infelizmente não foi um dos investimentos da SONY para ter nossa língua presente. E em seu relançamento isso não rolou também. Porém ao menos a dublagem em português de Portugal estava presente, então para quem faz questão de estar em nosso idioma, tem essa opção. Eu joguei e vi altos e baixos.
Enfim, apesar de ter seus problemas, a experiência de jogar Heavy Rain foi muito gostosa. A sensação era de ver mais um episódio de série de TV. Para quem é fã de jogos focado na história, esse é com certeza indispensável. Recomendo! Recomendo sempre dar uma olhadinha no preço dele na Greenman Gaming antes de comprar na loja direta, algumas vezes os preços deles estão bem abaixo do normal, e sempre lembre de olhar os cupons de desconto que eles espalham pelo site, que deixa a coisa mais barata ainda, dê uma conferida aqui.
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