Tá aí um anime que em condições normais, eu simplesmente não assistiria. Afinal de contas me cansa o tanto de anime genérico que existe por aí, e um chamado "Jack Violência" dos anos 80 já dá pra imaginar bem o que se dá pra esperar né? Claro, é uma visão preconceituosa da coisa, mas convenhamos né? Anime genérico é o que não falta, pode ser bem divertido com certeza, mas eu já não tenho paciência, porém sei bem que em meio aos milhares de mangás que temos, tem muita coisa curiosa presente que depois vai pra versão animada e com Violence Jack isso também aconteceu.
A história se passa no futuro, quando o mundo entrou em ruínas. Aconteceu algo de muito horrível e enormes prédios começaram a cair, a civilização entrou em colapso e os que sobreviveram, passaram a enfrentar uma luta frequentem em um mundo sem leis em que todos podem fazer o que quiserem na base da força. E em meio a esse caos surgiu a lenda de um homem conhecido como Violence Jack, que leva o caos por onde passa.
Originalmente o mangá foi publicado entre 1973 e 1974 no Japão, pelo lendário mangaká Go Nagai. Cinco anos antes de Mad Max, mas carregando muito dessa atmosfera de ambiente pós-apocalíptico sem leis, cheio de gangues descontroladas prontas para fazer o que bem entender em um local com clima de desertão. Foi algo bem chocante pra época por abordar temas pesados de forma explícita, como estupro.
E aí veio uma trilogia de OVA's (animes feitos direto pra vídeo), que foi lançada em 1986, 1988 e 1990. Sem dúvidas é uma coisa bem estranha, lembra um pouco a atmosfera de Genocyber, com cada episódio sendo uma história nada a ver com a outra, mas que sempre tem a presença do protagonista, porém sem a parte perturbadora na maioria do tempo.
Harem Bomber de 1986 é algo meio zoado com toque bizarro. É o tipo de animação que tem uma mistura entre elementos que envelheceram demais e viraram coisas de criancinhas, até detalhes que mesmo para tempos modernos são um tanto macabros demais. Isso porque é uma história muito solta com um cara que é uma lenda da violência, mas no geral é só pancadaria com um casal que só se lasca. A coisa é mais pesada por causa da questão do abuso sexual com uma dominatrix.
Evil Town de 1988 é sinceramente fantástica! O nível melhorou em todos os sentidos, desde a animação, que apesar de não ser linda, ficou muito mais fluída, até a história, que não é tão jogada. Ela se passa no subsolo, com pessoas que ficaram presas lá e criaram três comunidades que lutam para sobreviver. Mas o legal mesmo é em como a canalhice humana é explorada e isso torna a coisa realista, ainda mais pra um anime daquele tempo. Não é só isso de o bonzinho e o malvado. Tudo tem seu lado, e esse é sem dúvidas um dos episódios mais pesados, incluindo cenas de estupro, o que obviamente o torna um anime para maiores de 18.
Hell's Wind ao meu ver é o meio termo. Não é tão sem sentido quanto Harem Bomber, mas tá longe de ser bom como Evil Town. Ele tem foco em uma gangue que inferniza uma cidadezinha e em como eles estão poucos dispostos a reagir por causa do medo. Tem umas coisas dignas de filme trash de tão toscas e achei menos chocante do que os anteriores. Esse se destaca por ter ligação direta com Devilman, mas que você só entende a ligação entre os mundos se for pesquisar.
Esse anime acaba se encaixando bem no padrão de muitas obras antigas que têm elementos que são automaticamente interessantes, mas grande parte de sua composição é de algo não muito interessante ou simplesmente batido demais. Tipo Wicked City, só que bem longe de ter um visual bonito como aquele, mas por outro lado tem elementos de história infinitamente melhores (no segundo OVA apenas).
Uma curiosidade que acaba sendo um belo de um atrativo também, é que o Kentaro Miura assumiu que Violence Jack foi uma de suas inspirações para Berserk, e aí fica bem fácil conseguir relacionar Jack a Guts, mas não há dúvidas de que Miura fez um trabalho muito melhor. De qualquer forma existe aquele crédito para algo que veio antes e que não dá pra exigir que seja sempre mais complexo.
Enfim, esse não é um anime pra quem gosta de obras inteligentes e profundas. Ele parece mais um brainstorming de violência do autor. Ainda assim, sua influência na cultura pop e ligação com Devilman o torna algo naturalmente atraente para se dar uma conferida pela curiosidade. Acho que vale o tempo para ver com os amigos, afinal só são três episódios mesmo.
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