No começo do blog, fiz um especial sobre Gantz, franquia que eu tenho uma verdadeira paixão e que precisava falar sobre as várias mídias. Atualmente fui assistir novamente o anime com um amigo meu e foi uma surpresa bem desagradável ao ver o quanto essa bagaça envelheceu mal e levando em consideração a quantidade de mangás bons que foram adaptados que temos hoje, fica realmente difícil digerir a adaptação de Gantz.
A história tem início apresentando Kei Kurono e Masaru Kato, dois adolescentes que acabam salvando um mendigo que cai nos trilhos deuma estação de metrô, mas não conseguem sair a tempo. Ambos morrem e vão parar em uma sala cheia de gente com uma esfera negra que chamam de Gantz. Essa esfera lhes dá armas, roupas e os envia para assassinar criaturas estranhas. Os que sobreviverem retornam e podem ir pra casa até o próximo chamado.
Lembro que quando assisti Gantz em 2004, eu fiquei em êxtase. Aquilo era incrível demais! Agora percebo que a coisa provavelmente era mais um contraste pela quantidade de animes que eu assistia. Digo isso porque nos anos 90 eu me divertia com os clássicos da TV aberta como Yu Yu Hakusho e Pokemon, que deixaram sua marca em meu coração, mas claro que sem internet, as opções não eram muitas.
Após a virada do milênio, a coisa começou a ficar mais fácil. Dava pra descolar umas fitas VHS de um moleque que vendia na minha escola e sei lá como ele conseguia aquilo. Da mesma maneira começavam a se popularizar otakons aqui em Brasília, onde rolava oportunidade de ver coisa nova e claro, a internet começava a facilitar a coisa.
Nesse tempo eu comecei a consumir desenfreadamente animes. Muitos deles bem bobinhos, tipo .hack//SIGN, e apesar de terem obras primas nesse tempo como Monster e Serial Experiments Lain, a maioria era coisa boba. Porém como ainda estava começando a assistir, não me sentia saturado e era um prazer imenso ver qualquer coisa. Talvez isso tenha sido o que fez Gantz parecer tão maravilhoso naquele tempo. Eu assistia tanto anime ruim e com personagens que sempre pareciam os mesmos, que ver algo tão amargurado deve ter sido um contraste grande demais pra não se maravilhar.
Quando Gantz saiu, a primeira temporada teve tantos cortes pra sair na TV, que a primeira temporada ao invés de ter 13 episódios, ficou com apenas 11 e no fim das contas só pôde ser mostrado por completo quando saiu em DVD. Já a segunda temporada foi normal, com 13 episódios, totalizando 26 e deixando a coisa em aberto.
Na época eu odiei o final, e isso não mudou. Achei extremamente preguiçoso, pois a sensação é de que queriam que parecesse algo psicológico, mas que nem eles mesmos sabiam o que significado. Uma coisa do tipo "Nos fóruns de discussão estão falando o significado disso... É... Vamos dizer que foi isso mesmo que nós pensamos". Isso não mudou na segunda olhada, ainda achei o final horroroso demais.
No entanto a minha surpresa foi assistir e perceber que simplesmente não sentia a energia da época. O pior é que eu tinha falado tão bem desse anime para meu amigo e imaginei que seria fantástico assistir ele e somente o final seria ruim. Infelizmente a verdade é que a coisa foi bem diferente e o anime por completo acabou sendo fraco demais.
Como li o mangá inteiro, notei que o que senti realmente falta foram as histórias dos personagens do lado de fora da Gantz, afinal de contas nas missões é só tiroteio e gritaria, mas o que dava um toque realmente especial (ao meu ver), era o dia a dia fora da Gantz. A forma como os personagens tinham que viver e se adaptar, ficando preparados para a qualquer momento serem teletransportados. No anime o foco é praticamente todo nas missões, e assim é mais pra um tiroteio louco.
Os personagens ainda me atraem, mas sei que pode irritar algumas pessoas especialmente porque não são muito realistas. O autor parece ter pensado no lado mais podre que um humano pode ter e escrachado ao extremo para criar cada personagem. E o personagem Kato, por outro lado parece o contrário, foi feita uma construção contrária, colocando tudo de bom possível em uma pessoa. O resultado é algo caricato demais, pois quase todos os personagens são assim.
Bom, eu acho bacana essa podridão toda, e com certeza é uma das coisas que me atraíram na época, já que praticamente todos os personagens dos animes que eu tinha visto, eram com o típico herói de coração puro, o Naruto. Então ver um carinha pervertido que faz comentários de filho da puta, realmente foi lindo de ver. Ousado demais, não era como o Ichigo (de Bleach) ou o Yusuke, que são delinquentes, mas tem corações puros e são honrados.
O protagonista de Gantz é mostrado por dentro, na maioria do tempo em pensamentos, e eles são todos egocêntricos, egoístas e depravados, mas sem ser algo engraçado, é algo sério. O resultado é que você não fica encantado "Own... Ele é valentão, mas ele é um príncipe encantado que só pensa no bem de todos!". Acho uma pena que a mudança do Kurono seja tão repentina no anime, pois parece ser alguém que foi feito realmente no ponto, pois ele não é tão filho da puta quanto o resto, mas seus pensamentos mostram que ele tá absurdamente longe de ser príncipe. Me pareceu um personagem bem natural.
Kato, por outro lado é um personagem cansativo. Qualquer coisa e ele já está falando do poder da amizade e bondade. Muito provavelmente o autor colocou ele ali mais pra chocar do que qualquer outra coisa, pois é notável que todos os personagens são um monte de folgados, todo mundo pensando em si sem ter vergonha nenhuma de escrachar isso. Infelizmente a coisa fica mais cansativa do que divertida em ver o contraste. Tem momentos que ele fica MUIIITO tempo falando o papo dele "Ai, o amor, a justiça! O mundo pode ser um lugar bom! Todo mundo vai ser feliz!". Aliás, ele é o protagonista de Gantz: O.
A animação tem seus altos e baixos. Na verdade quando pensava em Gantz, lembrava de uma animação bastante bonita, mas vendo agora, deu pra notar que os caras queriam mesmo economizar ein! Tem momentos que os personagens ficam parados um século, só com a boquinha mexendo, chega a dar agonia "Olha lá... O monstrão tá matando mesmo ele... O que a gente vai fazer? Acho que vamos ser os próximos... É... Estamos armados até os dentes, mas... Vamos bater um papo?" e fica uns cinco minutos nessa faladeira sem movimentação que só deixa a coisa tosca. nas cenas agitadas até que fica legal, mas é difícil não notar o quanto forçam cenas estáticas. O 3D presente é perdoável, pra alguns pode até ser bonito, mas para outros pode ser um a mais na falta de qualidade da animação. Por outro lado o visual bonito dos personagens pode ser uma boa distração.
O arco final é de filler na verdade, ele adiciona os vilões Hajime Muroto e Ryuji Kajiura, que me agradaram bastante com as propostas que têm. Na verdade os achei bem decentes e personagens muito mais interessantes que a Kei Kishimoto, que no anime é só uma boneca sexual, enquanto no mangá pelo menos há tempo para um desenvolvimento interessante, mas aqui só serve pra gritar "SALVA O KATO!!! VAI LÁ! VOCÊ! VOCÊ VAI LÁ E MORRE PRA SALVAR MEU HOMEM!!!". Mas o final é uma desgraça, infelizmente.
Enfim, esse é um anime que sempre vou ter um carinho, mas que agora vejo que envelheceu demais mesmo, tenho até medo de assistir o filme live de Gantz action de novo e descobrir que não é tão divertido quanto me lembro. Não recomendo na época atual... É melhor ir logo pro mangá e de lá pular pra Gantz: G ou Inuyashiki. Mas se for ver, não tenha muita expectativa, pois especialmente com a adoração que se tem por essa obra, a expectativa costuma ser grande também, o que pode fazer a decepção ser ainda maior.
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