Hoje chegou a hora de falar de um clássico que todo fã de terror que viveu nos anos 90 assistiu, estou falando de "O iluminado", baseado no livro do mesmo nome, feito pelo nosso querido mestre do terror Stephen King, mas NÃO, eu não estou falando do filme do Stanley Kubrick, mas sim de uma série de 1997 que deve ter deixado ele puto Ò_Ò! Mas que sinceramente, gosto mais do que a adaptação para filme. No entanto, os anos passaram e essa obra caiu no esquecimento e atualmente só conhecem mesmo o do Jack Nicholson com o machadinho da aventura.
A história é sobre uma família em desespero. Jack Torrance é um homem com problemas de alcoolismo e que frequenta as reuniões do AA para se redimir por ter quebrado o braço de seu filho de 7 anos, Danny, em uma das crises. Isso fez com que ele "despertasse" e procurasse ajuda. E uma oportunidade de ouro surgiu quando foi chamado para ser o zelador do Overlook Hotel durante a temporada de inverno, quando a neve atinge mais de um metro no lugar e fica completamente isolado. No entanto, segredos do lugar logo começam a afetar a sanidade de Jack, que passa a atormentar seu filho e sua mulher Wendy.
Vocês já devem ter ouvido falar por aí que Stephen King ODIOU o nosso maravilhoso The Shining, de 1980, lançado pelo Stanley Kubrick. Isso é bizarro pra cacete, pois de tanta adaptação tosca do Stephen King, qual é o problema com essa obra prima do horror? Todos sabem que assim como existem coisas super elegantes como The Outsider e Castle Rock, existem também umas bagaceiras loucas horrorosas de tão trash.
Em 2006, Stephen King disse o seguinte sobre o filme:“É um Cadillac sem motor. Você não pode fazer nada a não ser admirá-lo, como uma escultura. O propósito principal foi retirado: contar uma história.”. E o motivo disso é que O Iluminado é um autorretrato do autor, pois foi escrito baseado em uma experiência muito pessoal que foi distorcida e completamente eliminada no filme. O autor diz que não tem problema algum com adaptação, mudanças, retirada de elementos, mas que em O Iluminado foi retirada a alma da coisa.
Ele criticou Wendy, dizendo que nunca escreveu uma personagem fraca daquele jeito, que só sabe gritar e chorar. Mas criticou especialmente Jack, pois é o foco principal da história, a luta pela bebida. King teve problemas com alcoolismo e tentou caracterizar isso em forma de história de terror. A transformação em meio ao desespero e medo. Ao invés disso é mostrado um personagem que já começa meio maluco e parece que apenas pirou porque tava isolado, a história da bebida é colcoada toda de lado.
Isso ficou entalado na garganta de Stephen King por anos, pois a cada entrevista descia o pau na bagaceira e muita gente nunca entendeu o que diabos ele estava falando. Até que no meio dos anos 90, não aguentou mais o seu ódio por esse filme e decidiu ele mesmo entrar em ação e escrever um roteiro para adaptação da coisa, que saiu em 1997 pela ABC.
Nem todo mundo sabe, mas além de livros, King também escreve roteiros e já tinha alguma experiência com a coisa. Foi ele que escreveu os roteiros de Cemitério Maldito, Dança da Morte e Creepshow. Além disso o diretor Mick Garris também já tinha uma certa afeição pelo escritor, pois dirigiu várias obras de King e continuou fazendo isso mesmo depois da série, tipo Saco de Ossos., além de ter uma ligação com ficção e horror em geral, como se pode ver em sua participação em Masters of Science Fiction.
Eu assisti essa série no fim dos anos 90, e inclusive cheguei a ganhar a fita VHS, que era dupla. Na época acho que todo mundo pensava que era um filme, pois não se alugava séries. Então parecia ser um dos raros filmes gigantescos. Se não me engano a versão daquela época era cortada e tinha umas três horas, pois realmente não lembro de ser tão grande.
A mini-série tem três episódios que dariam facilmente para encaixar três filmes, pois cada um tem uma hora e meia de duração. O primeiro achei bem entediante pra falar a verdade... Grande demais e não acontece nada, lento e tal. No entanto é algo que, após tantos anos sem assistir, imaginei que teria envelhecido bem mal, ainda mais com a fotografia maravilhosa da obra do Kubrick, que é mais antigo, mas era um mestre e o orçamento pra blockbuster é muito maior que de série da TV né? Mas a verdade é que acho que envelheceu muito bem e a série de 97 ainda faz bonito.
O visual do Overlook parecia mais grandioso na minha infância, o lugar parecia ser gigantesco, e agora revendo com os olhos mais minuciosos, é notável que não é tão gigante quanto parecia ser. Mas acho que se eu assistisse sem estar tão atento, poderia também ter essa ilusão hoje em dia. Agora a elegância do lugar continua a mesma, é chique, cheio de classe, aqueles lustres, o acabamento em madeira. Dá pra notar muito bem a elegância que se tem no lugar.
Aliás, apesar do hotel do Kubrick ser maior e mais grandioso, o da série tem algo que o do filme jamais vai ter. Esse é o hotel original que inspirou a ambientação. É o The Stanley Hotel, construído em 1909 e que realmente tem o problema de ficar fechado durante o inverno, que foi quando o autor esteve por lá e foi absurdamente inspirador.
Em 1974, Stephen King, sua esposa e seu filho de três anos foram ao lugar, mas estava fechado por ser temporada de inverno, só que os funcionários o reconheceram e pediram pra ele ficar no melhor quarto do lugar, o quarto 217. King teve um pesadelo de seu filho correndo pelos corredores do lugar perseguido por uma mangueira de incêndio e ao levantar observou as montanhas geladas. O barman do lugar também teve uma conversa memorável, que foi quando contou curiosidades do lugar.
Na série tem tudo isso! E eu fiquei abismado depois que fui pesquisar sobre, pois enquanto assistia com meu amigo, uma coisa que fiquei falando foi "Nossa... Que investimento... Os caras mudaram o local completamente, tá cheio de neve mesmo... Parece tão real!", e bom... Era real a bagaceira no fim das contas, haha.
Na série temos toda aquela visão das montanhas distantes, a mangueira de incêndio é uma das entidades presentes em uma das visões de Danny, que é uma criança com poderes psíquicos atraem seres sobrenaturais. Existe também um bom foco no barman que conversa com Jack e lhe dá informações sobre o que precisa ser feito. E o quarto 217 é onde aconteceu uma coisa terrível e atrai Danny com frequência
A Wendy também não é uma mulher nada fraca que só grita, e tenta com todas as forças lutar. As cenas de espancamento podem dar uma certa agonia em alguns, pois ao invés de usar o machado do filme, é usado um martelo de Croquet, que é tipo um martelão gigante de madeira. Em uma das cenas ele bate na barriga dela, deitada no chão. Em certo ponto a personagem está toda quebrada, rastejando pra se mover.
Enfim, é uma mini série muito agradável ao meu ver. Ótima para se assistir durante três noites seguidas. O primeiro episódio é meio cansativo, mas se você estiver mesmo empolgado para ver a coisa, imagino que vá conseguir passar tranquilamente por essa introdução não tão agradável. Acho que é uma obra que envelheceu muito bem, com reais problemas apenas no CGI, que é usado muito pouco.
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