Sou simplesmente apaixonado por histórias medievais sombrias, o nosso famoso gênero Dark Fantasy. Mas infelizmente é o tipo de obra que é bastante complicado de ser aplicado na prática quando o assunto é cinema. Isso porque coloca dois elementos completamente opostos, um gênero naturalmente merda que em sua essência é de baixo orçamento (o terror) e uma ambientação que naturalmente é de alto orçamento (o medieval). O resultado é termos muito poucas obras do gênero, e The Head Hunter não é uma dessas.
A história se passa em um reino de fantasia medieval lotado de criaturas macabras. Um caçador ótimo no que faz é contratado para o trabalho. No entanto ter uma filha em um mundo desses é um verdadeiro problema, e enquanto ele pega a cabeça de cada criatura e a pendura como troféu, um dia um monstro arranca a cabeça de sua filha e ele dedica os anos seguintes a perseguir esse ser em especial.
Como falei, há duas essências opostas aqui. Filme de terror não é dos gêneros mais lucrativos, pois boa parte do público automaticamente é descartado. Nem todo mundo gosta de terror, muita gente se sente mal, tem medo até dos filmes mais toscos e assim simplesmente não assiste. E com uma limitação automática significa menos grana entrando. Por outro lado um filme medieval é uma complicação do inferno, o figurino tem que ser caro pra não parecer cosplay tosco e a ambientação tem que ser cara de um jeito ou de outro, seja em montagem de cenário, seja em viagens para locais exóticos.
Sendo assim, filmes medievais na maioria das vezes costumam ser épicos e muitas vezes se parecem demais. Histórias como o cara que quer virar rei e por isso parte em uma aventura são as mais clichês possíveis. E tem o mistureba de fantasia medieval que veio especialmente depois do Senhor dos Anéis, mas que logo viram que não basta ter fantasia pra o público amar. Ou seja... Se já é uma trabalheira fazer um filme padrão que não pareça trash, imagina se arriscar no horror? Felizmente O Caçador de Cabeças foi ousado o suficiente.
Esse é um belo exemplo de história que usa a narrativa Sword and Sorcery, e graças a isso é preciso estar preparado para acompanhar o personagem em sua própria visão da coisa, pois é um filme que não explica nada. Na verdade mal tem fala nele, já que praticamente o tempo todo é apenas o protagonista e os sons, vultos e sombras das criaturas que o cercam.
Então se a pessoa for pensando em algo extremamente movimentado, pode se decepcionar. É um filme pra hora certa. Apesar de ter suas semelhanças a obras como Black Angel e Berserk, a coisa tem uma atmosfera mais quieta e é notável que foi uma mistura entre limitações de orçamento medo de ficar tosco e vontade de fazer uma história diferente.
Usaram uma cabana no meio da floresta, que provavelmente não foi construída, pois acho que o governo de Portugal e da Noruega (onde foram filmados) não liberariam algo assim em locais naturais tão bonitos. Também há um ótimo figurino e o personagem parece mesmo um guerreiro bem ferrado com uma armadura pesada e o ator tem muito a ver.
Todos esses elementos causam um visual fantástico e conseguem enganar o orçamento de 30 mil dólares. Se pra você isso parece muito, saiba que Invocação do Mal custou 20 MILHÕES de dólares. E um filme como A Visita, que é considerado de baixíssimo orçamento, custou 5 milhões de dólares. Então imagina o que é 30 mil? Não é nada... O visual foi montado, mas e quanto ao resto?
Pois é... Fazer uma obra dessas e não deixar tosco é extremamente complicado, afinal de contas se o filme fosse focado puramente no drama, poderia até se sustentar, mas quando se coloca monstros na jogada, a coisa muda bruscamente. E é nesse ponto que os caras tiveram que ser bem cuidadosos para não estragar o visual.
Sendo assim, você vê os vultos, ouve os sons das criaturas, chega a ver as sombras, mas o combate em si não é apresentado e esse é um ponto que muita gente pode odiar, especialmente se esperam uma obra tipo The Witcher, que tem toda aquela ação super frenética. Aqui a coisa é mais focada na solidão, com pequenas dicas sobre o mundo que o cerca.
Apesar de tudo há sim combates, mas a coisa é muito mais semelhante a Evil Dead do que um combate estiloso como The Last Kingdom ou Game of Thrones. É aquela coisa mais desesperada, que dá pra sentir que o protagonista não tem tanta energia assim e usa de tudo para conseguir matar a criatura, que é um daqueles seres que não morrem de jeito nenhum.
Enfim, esse é um filme que acho que deve ser assistido de noite em um momento tranquilo. É perfeito para se assistir sozinho ou com um amigo que não seja tão tagarela. Não acho que seja muito adequado pra se assistir com muita gente. Apesar das limitações, considero o filme uma bela pérola. Não é uma fantasia sombria grandiosa como Dark Souls, mas é algo menor que não deixa de perder seu charme, como A Fúria do Cão Negro e pode agradar a muitos. Recomendo!
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