Quando pensamos em fantasmas japoneses, é fácil os associar à figura de uma mulher de longos cabelos com vestes brancas e pele extremamente pálida. No entanto nem todos os Yūrei são desse tipo. Na verdade é mais para uma subdivisão e que só acabou ganhando popularidade à partir do século 18.
Apesar disso, os Yūrei não são também qualquer entidade sobrenatural como demônios, mas sim criaturas que um dia foram humanas e depois acabaram se convertendo. Reikon é o nome dado a um elemento do budismo que é equivalente à alma. Todos nós temos dentro de nossos corpos, no entanto ao morrermos, eles saem e após o funeral, tornam-se espíritos protetores da família que pertencem.
No entanto, como todo mundo sabe, a morte nem sempre acontece de um jeito bonito. E existem basicamente três formas em que o reikon não consegue descansar em paz e ao invés disso fica na terra, tornando-se um espírito vagante. A primeira, e mais conhecida é morrer enquanto se está consumido por uma emoção muito forte (ódio, dor, vingança, amor, medo). A segunda é morrer violentamente, normalmente assassinado. A terceira é morrer e não receber um ritual funerário (Tipo morrer perdido na floresta e o espírito continuar lá). Com isso podem surgir os seguintes tipos de Yūrei:
Ubume: São espíritos de mulheres que morreram no parto ou
protegendo seus filhos. Isso faz com que não consigam partir e se tornem
espíritos protetores capazes de fazer de tudo para manter o filho
seguro.
Funayūrei: Fantasmas do mar, podem sair de dentro da água, andar sobre ela, ou assombrar navios. A cultura de pesca japonesa adora a difundir histórias do tipo e foram muito populares no período Edo (Século 16 a 19).
Onryō: Os mais conhecidos mundialmente, espíritos que morreram
com uma forte emoção e ficaram atormentados vagando pela terra. Seu
desejo não cai apenas sobre aquilo que o causou, ele age como uma doença
e pode passar de pessoa pra pessoa, portanto aqueles que entram em
contato com alguém atormentado por um desses, podem acabar sendo também.
Goryu: Provavelmente o mais devastador de todos. São pessoas que sofreram tortura e querem vingança, mas são implacáveis, podendo não apenas assombras, como levantar cadáveres para que cumpram seus desejos e até mesmo criar terremotos e tufões.
Yūrei Sedutores: Esses são extremamente sensuais, seus objetivos são puramente se relacionar. Porém isso pode prejudicar bastante os humanos que caem em seus encantos.
Zashiki Warashi: Espíritos de crianças, que costumam fazer travessuras e se divertem pregando todo tipo de peça em humanos.
Como podem ver, nem todos os Yūrei são malvados, e isso inclui os Onryō, que embora possam ser consumidos por um desejo de vingança, podem também ser consumidos por um amor extremamente intenso. O problema é que a forma deles agirem normalmente são danosas para humanos, como é o caso dos Zashiki Warashi, que só são crianças brincalhonas, mas podem causar muito horror.
Quando O Chamado foi lançado, aquele filme apresentou ao mundo o visual de um Yūrei, e quando pouco tempo depois lançaram O Grito, aquele visual pareceu uma tentativa de cópia do filme anterior. No entanto, esse conceito da mulher pálida de cabelos longos vestido um vestido branco é bem mais antigo que filmes.
Em 1737, o artista Sawaki Sūshi publicou um pergaminho de criaturas sobrenaturais chamado Hyakkai Zukan, que contém figuras parecidas com esse estilo (A imagem à esquerda), porém acabam sendo desconsideradas por serem classificadas mais como demônios do que espíritos de pessoas que se transformaram em seres assombrados.
A imagem considerada como a primeira representação visual de um Yūrei, por ter toda uma história por trás dela, vai para Maruyama Ōkyo, que desenho em algum momento entre 1750 e 1780, e chamou de Ghost of Oyuki (A imagem à direita). A história por trás da pintura é que era a imagem de uma Geisha que ele conheceu e morreu jovem, mas que o visitou durante um sonho e o inspirou a desenhá-la.
Curiosamente essa é a época de ouro do horror japonês, pois foi quando o jogo Hyaku Monogatari Kaidankai já tinha se popularizado entre os jovens daquele tempo, e tinha gerado a emoção que muitos estavam ansiosos para ter. Sendo assim, talvez a figura seja um dos frutos desse tempo em que todos estavam tão empolgados por coisas macabras.
Esse visual pode variar de Yūrei para Yūrei, por exemplo é bem comum ver a figura do quimono branco, mas nem todos podem ter essas vestes. Isso porque é uma veste tipicamente funerária (diferente da nossa roupa preta), a palidez pode ser relacionada à cor que cadáveres assumem, mas também pode ser relacionada a maquiagem tradicional japonesa. Os longos cabelos na cara podem ser referência aos cabelos soltos do cadáver e não amarrados em coque.
A forma mais comum se se proteger de um Yūrei é usando um Ofuda, que é um amuleto de proteção feito de papel ou de madeira com um guardião impresso e inscrições. As pessoas colocam na frente da casa. Mas se ela merecer, o amuleto não fará efeito e assim a pessoa terá que chamar um monge para tentar purificá-la. Um ritual funerário costuma liberar um Yūrei padrão como um Zashiki Warashi, mas se for um Onryō, às vezes não é o bastante.
A forma mais comum se se proteger de um Yūrei é usando um Ofuda, que é um amuleto de proteção feito de papel ou de madeira com um guardião impresso e inscrições. As pessoas colocam na frente da casa. Mas se ela merecer, o amuleto não fará efeito e assim a pessoa terá que chamar um monge para tentar purificá-la. Um ritual funerário costuma liberar um Yūrei padrão como um Zashiki Warashi, mas se for um Onryō, às vezes não é o bastante.
Enfim, esses são os Yūrei, assombrações japonesas, que acabam tendo um charme próprio por serem diferentes do padrão que conhecemos. Existem diversas obras que as apresentam, desde o horror macabro de Junji Ito, até o mundo dos video games como em Silent Hill 4, ou mesmo em obras ocidentais como Floresta Maldita. Vocês conhecem alguma obra que chamou a atenção com essas criaturas?
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