É engraçado como vez ou outra aparecem verdadeiras surpresas. Uma delas é a série Os 13 Porquês (13 reasons why), que eu imaginei ser uma obra extremamente genérica para garotinhas, mas acabei me deparando com cenas chocantes pra caramba e rapidamente fiquei bastante viciado em assistir os episódios. Quando terminei a temporada, ficou aquela sensação incômoda de ter assistido algo meio doentio. Então chegou a hora da análise!
Antigamente eu colocava as séries da Netflix em altares, bastava ter o selo e eu já sabia que ia ficar viciante, porém depois da chatíssima Between e do cancelamento de Marco Polo, a empresa caiu bastante no meu conceito. Daí vi que ela tem obras maravilhosas e outras que são uma desgraça. Mas a grande surpresa veio nas últimas duas séries que assisti dela.
Quando fui assistir Desventuras em Série, eu realmente achei que ia ficar viciado, mas topei com uma série que achei visualmente linda, com uma abertura fantástica, mas com uma história que me deixou tão cansado que as vezes eu parava o episódio e deixava pra terminar depois já que parecia um loop infinito de situações que já aconteceram, sem surpresas, sem reviravoltas, sem mistérios com alguma profundidade. Por outro lado Os 13 Porquês eu não esperava absolutamente nada, e me vi assistindo múltiplos episódios diariamente.
A história apresenta um adolescente chamado Clay Jensen, de 17 anos e que estuda em uma escola onde uma garota chamada Hannah Baker cometeu suicídio. A partir daí o lugar passa a fazer homenagens e tenta conscientizar os alunos sobre desabafar e como a vida tem valor. Duas semanas depois o garoto recebe uma caixa contendo várias fitas em áudio. Ao ouvir se surpreende com a voz de Hannah dizendo que contará os 13 motivos de ter se matado e que cada lado de cada fita é um porquê. Ela não sabe quem está ouvindo, mas chegará a hora da pessoa, pois criou um jogo onde cada um dos responsáveis vai receber a caixa na ordem que é citada.
Bom, no começo essa história me pareceu histérica demais e do tipo "Vejam, eu sou a adolescente que quer atenção! E agora eu vou me MATÁ!!! Mas vocês todos vão ter que sofrer muito porque eu não fui amada!". Ainda mais depois do segundo porquê, que parece tão "Não suporto minha amiga e o namorado dela!". Porém com o passar da série, as coisas vão ficando tão pesadas que nos últimos episódios há avisos falando o tipo de cena perturbadora presente e DEFINITIVAMENTE não é uma série adequada pra garotinhas verem.
Outra coisa é que de imediato a história de partida da coisa me lembrou Serial Experiments Lain, onde uma garota se mata e todo mundo da escola recebe um e-mail misterioso dela, daí a protagonista começa a mudar. A princípio de certa forma também senti um pouco da essência apresentada em Amizade Desfeita. Sendo assim Os 13 Porquês realmente me pareceu genérico inicialmente.
Outra coisa que piorava ainda mais era a presença do Dylan Minnette, que é um ator bonitinho, e isso por si só já causa aquela sensação de "Oh... Mais uma história de romance...". Mas no meu caso, a aversão não era por isso, mas porque parece que todas as obras que vi do cara ele interpretava sempre o mesmo papel. Sério, parece que é o mesmo personagem em múltiplos universos, assista Goosebumps e você verá Clay se mudando e enfrentando o sobrenatural, até mesmo um filme pesado como O Homem nas Trevas tá lá o Clay, que dessa vez virou bandido mas continuou com o jeitinho de garotinho indefeso. O último filme que lembro de ter visto esse ator com uma cara diferente foi Deixe Me Entrar, onde o personagem dele é mau pra caramba.
Mas acho que o que mais influenciou foi a forma que descobri a existência dessa série. Eu sempre fico olhando o que o povo tá lendo, pois como quero tentar vender o meu próprio livro, gosto de ver o que o povo tem gostado. E daí do nada vi um monte de gente de meninas desesperadas dizendo que PRECISAVAM ler o livro os 13 porquês antes de "assistir". Depois vi na Netflix e pensei que era um filme e não uma série, mas depois um leitor veio falar comigo que todo mundo dizia que era bom, aí ficou aquela coisa "Tá... Quem sabe né." e quando tive uma brecha decidi ver.
Porém depois de tanta aversão à bagaceira, é como falei, a surpresa foi grande pra caramba! Quem imaginaria que eu iria ficar de frente com uma baita de uma obra bem produzida? Inclusive fiquei me perguntando qual é o público alvo real da coisa. Será mesmo adolescentes? Pois com certeza jovens se identificam com o ambiente colegial, sonhos, romances. Já não parece tão atraente para adultos. Por outro lado chega a um ponto que acho que pais não vão querer deixar a filha assistindo isso não. Acho que o próprio público adolescente chega a um ponto que pensa, "Credo, eu vou é voltar pro Crepúsculo".
O negócio é que, embora alguns dos motivos sejam mesmo problemas normais de estudantes, briguinhas e tal, tem outros que são coisas bem horríveis. Peso na consciência por tragédias e acontecimentos perturbadores que lembram alguns filmes doentios que deixam muita gente bem desconfortável enquanto assiste. Aliás, um dos atores passou a ser hostilizado constantemente por fãs da série graças às atitudes de seu personagem.
Sendo assim, quando visto alguns dos motivos separadamente, o pensamento é meio "Mé...", mas quando são colocados juntos, deixam um clima pesado que definitivamente não tem nada a ver com "histórias amorzinho" que vemos por aí. Dessa forma o que temos aqui é uma obra que vai muito além de meramente querer mostrar um romance. Aliás, o foco mesmo em romance é muito pouco, as partes amorosas que aparecem rapidamente acabam muito mal.
O ritmo da série é muito bom, você fica pensando "Quem é o próximo?", e tem alguns alunos que você simplesmente não consegue imaginar como podem ter feito algo tão terrível para se tornar um motivo e quando menos espera o personagem vai lá e faz algo. O próprio Clay é um personagem que você fica pensando "Caramba, o que esse menininho fez?", será que ele é o 13º motivo e só no episódio 13 vou descobrir? Ou será que quebraram o clichê e colocaram antes?
Enfim, essa é uma série realmente maravilhosa, que fala sobre conflitos internos e mostra que Bully não é uma criatura sobrenatural, mas sim algo que surge de todas aquelas carinhas que os pais consideram anjinhos. Essa é uma obra com uma mensagem forte pra caramba e que faz pensar sobre como certas atitudes que parecem apenas engraçadas ou que ninguém vai ligar podem causar um verdadeiro caos. Recomendo muito!
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