Para algumas pessoas pode ser um pouco estranho quando descobrem que H.P. Lovecraft escreveu também histórias que não fossem do gênero horror cósmico como "O Chamado de Cthulhu", mas a verdade é que ele escrevia muita ficção científica tradicional, como "Vento Frio". E entre 1921 e 1922 ele escreveu o conto "Herbert West–Reanimator", que foi publicado dividido em forma de série. Em 1985 recebeu uma adaptação para filme e hoje vou escrever uma review sobre.
A história é sobre um genial aluno de medicina chamado Herbert West, que usa métodos antiéticos em corpos para trazê-los de volta à vinda. No entanto, ao ser descoberto, ele é expulso e vai embora da Suíça, para a cidade de Arkham, nos Estados Unidos, e logo de inscreve no curso de medicina da Universidade de Miskatonic, onde conhece Dan Cain e paga pra morar em sua casa. E assim que retorna aos seus experimentos, coisas terríveis passam a acontecer.
Esse é um filme que teve muitos rumos antes de finalmente chegar onde chegou. Começou realmente do nada, com uma conversa entre amigos do diretor Stuart Gordon, que comentou que tava cansado de tanto filme do Drácula e que queria ver mais filmes do Frankenstein. Graças a isso, lhe perguntaram se ele já tinha lido "Herbert West–Reanimator", e ele não conhecia, mesmo sendo muito fã de Lovecraft. Tempos depois foi a Chicago e conseguiu uma cópia velha em um sebo.
Depois disso, pensou em fazer uma peça de teatro, porém a ideia foi evoluindo tanto, que a empolgação levou a ele e os conhecidos a pensarem em adaptar para um episódio piloto de uma série de TV de 13 episódios. E fizeram todo o roteiro, que ao ir passando de mão em mão com gente da indústria, lhe convenceram de que ninguém iria querer assistir uma série de terror e que só um filme teria público. E assim nasceu Re-Animator, lançado direto em VHS e em duas versões, uma censurada pra vender mais.
O filme se tornou um clássico cult do horror, e sempre que alguém vai procurar por terror dos anos 80, acaba se deparando com ele. Tem os seus destaques, mas também tem muita bagaceira trash, que levando em consideração a época, acredito que não chega a cair no ridículo, mas para tempos atuais, é difícil não encaixar com o alto nível de gore e efeitos práticos clássicos.
Apesar de tudo, eu achei a condução do filme bem decente, com personagens que não são burros, o que é bem impressionante pra um filme dos anos 80. Então já no começo do filme, a namorada de Dan, Megan Halsey, já saca de uma vez que Herbert West é muito estranho e vai direto ao ponto quanto a isso. Então ela o acusa sem rodeios ao invés de ficar meia hora sem entender o óbvio, como é bem comum nesse tipo de filme.
Também tem alguns elementos a serem valorizados, como um personagem que é decapitado e tem tanto o corpo quanto a cabeça reanimados. Nesse tipo de filme é óbvio que o corpo só vai pegar a cabeça e encaixar de volta como se fosse uma peça de lego. No entanto aqui isso é levado de um jeito mais lógico e em momento algum ela é reencaixada, ao invés disso ele coloca uma cabeça de manequim com máscara pra disfarçar.
As próprias atitudes de Herbert West não são de um vilão louco padrão. Normalmente cientistas loucos já têm um arquétipo completamente manjado, dando risadinhas e agindo de maneira completamente insana. Mas aqui temos um personagem que não é insano, mas sim implacável completamente antiético e ambicioso. O resultado é que ele está entre os protagonistas, por mais frio que seja, não sendo o vilão principal. Essa fórmula é bem madura pra um filme desse tempo, já que mesmo em tempos modernos é fácil ver o estereótipo do cientista louco.
A trama me lembrou um bocado alguns elementos de O Cemitério Maldito, e me pergunto se o Stephen King se baseou no conto do Lovecraft pra fazer. Tem coisas como o coitado do gato de teste e a ideia de se perder alguém que ama e tentar fazer algo que sabe que vai dar muito errado. E por falar em inspiração, Lovecraft disse que se inspirou na obra de Mary Shelley, ou seja... O próprio Frankenstein, que foi a ideia inicial do diretor.
Uma coisa que provavelmente vai chamar a atenção dos fãs de Lovecraft, é que a história se passa na tão falada cidade de Arkham, que é citada em múltiplas obras do escritor. No entanto, enquanto sempre é comum se ver Arkham do começo do século passado, aqui temos uma versão nos anos 80, assim como a faculdade de Miskatonic, que é uma das únicas instituições do mundo a ter uma cópia do Necronomicon.
Porém não foi apenas a vontade de finalmente dar uma cara mais moderna a Arkham não, o diretor já comentou que o motivo de adaptarem em tempos modernos foi a falta de dinheiro mesmo. A ideia original era criar uma Arkham na virada do século 19 para 20. Mas na medida em que foram preparando, viram a fortuna que iria ficar.
Por outro lado, fizeram efeitos práticos em geral bem bacanas. Ficou super natural a cabeça do personagem decapitado, e vários elementos em geral se mostraram bem dignos, inclusive a estética do soro esverdeado tão marcante que é usado pelo cientista para reanimar os cadáveres. Porém o estilo de efeitos acaba fazendo ficar um tanto trash.
Esse não foi o único filme do diretor a adaptar a obra de Lovecraft, inclusive o seu filme seguinte, o bizarríssimo "Do Além", ele chamou o ator Jeffrey Combs, que interpreta Herbert West, para interpretar o protagonista. Nos anos 90 ele fez o estranho "Castle Freak", e também foi responsável pela adaptação que curiosamente é uma das maiores influências de "Resident Evil 4", o não tão popular "Dagon".
Enfim, apesar de ser uma obra cult e sim, eu ter apresentado mais os aspectos bons do filme, Re-Animator não é um longa-metragem que me deixou super animado não. Apesar do filme sempre estar com algo acontecendo, achei ele meio parado. Não são coisas muito empolgantes e nem atmosféricas na maioria do tempo. Então acho uma obra interessante pra fãs de terror, com seus elementos louváveis, mas no geral, achei meio cansativo, sendo assim acho que varia de pessoa pra pessoa.
0 Comentários