O que um dia foi visto meramente com desprezo, acabou se tornando um verdadeiro gênero próprio e adorado por algumas pessoas. É o mundo dos filmes trash, que mostra que a arte é realmente algo que depende dos olhos de quem está olhando. E hoje vou falar sobre essa tranqueira, que apesar de inicialmente parecer seguir a mesma linha do Biscoito Assassino e O Pneu Assassino, acaba tendo um toque peculiar ao tentar fazer uma história séria em cima de algo tão bagaceira.
Essa é a história de uma dançarina chamada Francesca. Ela sempre teve uma vida meio estranha por atrair os homens e os deixar obcecados por sua beleza. No entanto a garota se surpreende quando recebe a notícia de que um de seus seguidores foi encontrado morto de forma grotesca. Ao mesmo tempo, ela recebe um sofá de presente de algum desconhecido que apenas mandou entregar. Decide ficar com o móvel, mas logo as coisas estranhas começam a acontecer.
Bom, é claro que quando fui assistir esse treco com um amigo, eu estava esperando um Velocipastor da vida, que é um daqueles filmes toscões com força e que os criadores não têm a mínima vergonha de esconder. Até porque um sofá assassino é uma ideia ridícula demais para se levar a sério. Porém logo o filme se destaca com sua narrativa que não tenta em momento algum forçar algo engraçado. Ao invés disso, pega os elementos e há um esforço para tentar fazer quem assiste levar a sério.
Pelo o que eu vi na lista de filmes do diretor Bernardo Rao, esse foi o filme mais bem sucedido dele, no IMDB as produções anteriores são uma tonelada de curtas ou filmes que não têm nem poster. Outra coisa curiosa é que é uma produção da Nova Zelândia e acho que nunca vi um filme de lá, então quem sabe seja esse o estilo deles, né? Algo mais sério.
Mas bom, o que quero dizer não é que o filme seja um suspense psicológico, mas sim que a história teve uma real dedicação. Os personagens não fazem piadinhas ou coisas sem sentido. É como se alguém tivesse virado para o diretor e falasse "Te desafio a fazer um filme sério sobre um sofá assassino". Ou como se ele estivesse tentando fazer uma obra absurda com clima genuíno de trash dos anos 80. Aqueles filmes que são toscos porque a produção simplesmente não tinha orçamento nem senso do ridículo e aí saía algo horroroso sem ser intencional.
Portanto aqui contamos com vários pontos de vista. Um rabino que abandonou sua vida, mas que herdou poderes paranormais de seu pai e começa a investigar a poderosa entidade presa ao sofá. Uma dupla de policiais que investiga Francesca e os "acidentes" que a rodeiam. E a própria Francesca e sua amiga Maxi, que vê eventos sobrenaturais acontecendo em sua casa.
A história conta inclusive com alguns plot twists e acho que isso pode surpreender algumas pessoas e até mesmo dar alguns arrepios nos mais sensíveis. Alguns elementos são bizarros e existe toda aquela coisinha da história por trás do sofá e o que fez ser um objeto amaldiçoado. Em meio às investigações acabam surgindo alguma pequenas surpresinhas.
Mas apesar de tudo, ainda é um sofá assassino né? Então não tem muito como fazer a coisa ficar estilosa, por mais que se haja algum esforço. Na verdade esse esforço por si só gera uma certa vontade de rir. E além do mais o sofá tem cara e sai andando por aí, o que dificulta absurdamente a possibilidade de ser puramente estiloso.
A fotografia é uma desgraça! Apesar de você ver que os caras usaram equipamento profissional pra fazer, o diretor de fotografia não parecia ter lá muita habilidade não, pois em certos momentos a iluminação tá tão estourada que parece que você está assistindo uma filmagem que qualquer pessoa fez por aí usando uma câmera boa, e não um filme. Felizmente não é algo que fica o tempo todo, mas que aparece o suficiente pra ser notado.
Enfim, Killer Sofa é um filme de 2018 lançado direto em vídeo (que surpresa, não?), que é esquisito o suficiente pra parecer não ter um público alvo muito certo, não é tosco o suficiente nem estiloso o suficiente. Acho que é meio que indispensável para fãs de filme trash, porém acaba não sendo uma bagaceira do tipo Planeta Terror ou Banquete no Inferno. Mas pode ser interessante dar uma conferida. A propósito, achei a música tema "You're Cold" maravilhosa, foi feita pelo próprio diretor.
0 Comentários