Horas da Escuridão (Como ficou em português) é a primeira DLC de Far Cry 5, e leva os jogadores de volta à Guerra do Vietnã, lançando-os em uma imensa selva cheia de bases inimigas, túneis secretos e prisioneiros de guerra. É uma experiência semelhante a Far Cry Blood Dragon, apresentando um universo de filme de ação dos anos 80, porém com um clima sério ao invés de ser voltado para o lado trash.
É possível deixar passar despercebido, mas a história tem ligação direta com Far Cry 5, pois tem como protagonista Wendell Redler, que é o veterano de guerra que você acha no jogo. Mas aqui as coisas se passam nos anos 60 e ele usa o codinome Cowboy. Você e seu esquadrão são capturados na selva e se tornam prisioneiros de guerra, mas ao conseguir fugir, logo passa a localizar e salvar os amigos enquanto deixa uma trilha de corpos pra trás.
Acredito que essa pequena expansão pode acabar fazendo muita gente olhar torto especialmente pelo seu tamanho. Quando fui jogar, já sabia que seria algo curto e comentei com meu amigo que achava que devia ter umas duas horas. Ele disse que pensava ter umas oito horas de duração, e foi possível ver a decepção em sua fala quando notou que eu estava certo (Zeramos em duas horas e quarenta minutos).
Sendo assim, acho que é natural ver pessoas frustradas, porém acredito que o vacilo não é da Ubisoft, mas sim da própria pessoa, afinal de contas é só parar pra pensar um pouco. O Season Pass do jogo foi lançado por R$ 79,99 com a promessa de três DLC's com mundos completamente novos, uma cópia de Far Cry 3 e armas adicionais. São coisas demais para dar campanhas grandes nos jogos né?
Portanto o em relação a tamanho do jogo, não foi surpresa alguma pra mim ser curto. Por outro lado o jogo me decepcionou em algo que parece sempre me decepcionar nessa franquia, que é a narrativa. Os universos de Far Cry são sempre tão maravilhosos e abre um leque de possibilidades tão incríveis, mas parece que no fim a história sempre se resume a tiroteios, e bom... Tente imaginar a que ela se resumiu em um ambiente de guerra pura? Pois é...
Pra variar o começo é tão maravilhoso como em qualquer Far Cry, com aquela tensão e tudo mais. Ao pensar em Hours of Darkness, imaginei que seria um Far Cry mais pesado, com um foco no horror da guerra e o medo de vagar por uma selva cheia de inimigos tentando te matar, com uma sensação da coisa estar sendo árdua.
A verdade é que tudo é muito mole, os inimigos morrem de uma maneira fácil que é uma beleza. Parece de verdade um jogo de ação dos anos 90, onde você sai loucamente apontando armas e metendo bala em tudo o que se mexe. E isso estaria ok se fosse igual a Far Cry Blood Dragon, mas aqui o foco é algo sério, então parece ter um contraste.
E a ideia de tiroteio sem sentido fica ainda mais acentuada com o fato de que o mundo aberto do jogo é mais pra enfeite do que pra mundo aberto com opções. Não existe variação nas missões, elas são; salvar o prisioneiro, pegar o isqueiro, matar o comandante, destruir o autofalante, destruir o anti-aéreo. Parece variado né? Mas não é! Todas se passam em uma base onde você tem que matar todo mundo e cumprir o objetivo (Fora a dos isqueiros que você os acha jogados no chão, mas isso nem conta né?).
Ao olhar o mapa do jogo no final, vai perceber que o caminho que seguiram foi do ponto A ao ponto B só que serpenteando. É um mundo aberto que no fim das contas é só um caminho que você vai indo certinho até chegar no fim. É bem triste ver o potencial que tinha ao usarem esse mundo, mesmo que colocando elementos já existentes.
Por exemplo, existem animais próprios que não estão presentes em Far Cry 5 como a pantera e o crocodilo, no entanto você não pode caçar animais. Não existe evolução de personagem nem tem modificação de armas, o jogo é realmente só de tiro comum como se fosse um shooter genérico em que a mecânica principal é atirar.
A ambientação é fenomenal, é possível ver aquele céu laranja no horizonte, há ambientes cheios de gás sufocante, nas bases há imensos túneis de onde os inimigos podem sair a qualquer momento pra te matar, de vez em quando caças passam e deixam um rastro de fogo. No entanto é uma pena que não é algo mais sombrio e pesado como imaginei que seria. Por exemplo seria maneiro um foco maior no stealth, afinal de contas você é um americano no meio de uma selva em outro país. Ter que ralar pra matar inimigos escondido e limite de balas seria fenomenal.
O próprio ambiente poderia melhorar, não existe ciclo de dia e noite. Eu nem acredito que a Ubisoft perdeu a oportunidade de dar um toque de medo na coisa. Ver o anoitecer e saber que os vietnamitas estão à espreita parece uma ideia óbvia em um jogo assim, mas simplesmente não é usado. O jogo é completamente diurno.
Existem histórias de guerra que conseguem aproveitar a coisa de uma forma atmosférica, como na HQ Preacher ou o realismo de Valsa com Bashir, além é claro de ambientes que vão para o lado sobrenatural da coisa, mas que mostram que é possível sim fazer algo diferente, como a HQ 68 e o filme Deathwatch, ambos focados na tensão e horror.
Existem alguns carros da época, o que é bem bacana, mas como a maioria do lugar é selva, você acaba não andando muito, mas é legal o seu amigo ficar em cima em uma arma montada e você dirigindo ou vice versa. Aliás, o modo cooperativo está bem fluído como se era de esperar, só é uma pena que não são dois personagens, o seu amigo tá lá só como duplicata sua mesmo.
Por outro lado, algo que gostei demais e que acho que foi um belo de um furo em Far Cry 5, é o fato do personagem falar, demonstrar reações com as coisas que acontecem, não só ficar lá calado enquanto falam ao redor dele. E se você não tem amigos pra jogar, ainda existem os bots, portanto cada um que você salva, você pode fazer com que ele te acompanhe (apenas um por vez).
Enfim, Hours of Darkness é uma obra que apresentou algo novo ao universo de Far Cry, mas que infelizmente não exploraram, mataram boa parte dos elementos da franquia e transformaram em algo de correr e atirar. É possível se divertir é claro, inclusive pretendo zerar novamente com meu amigo, mas é difícil não esperar que ao menos fosse um pequeno mundo aberto que te dá vontade de ir a lugares ao invés de só ir andando. É algo que pode gerar diversão se for visto como um passa tempo com um amigo, mas se exigir demais a frustração é certa.
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