Finalmente chegou o grande momento de falar sobre Assassin's Creed Origins, o jogo que criou uma imensa expectativa por ter sido o primeiro da franquia a fazer uma pausa nos lançamentos anuais, e felizmente conseguiu fazer bonito com seu retorno, dando uma ótima reformulada na coisa e fazendo muita gente se surpreender.
Apesar de ser colocado como primeiro da franquia a fazer uma pausa anual, é necessário lembrar também que quando o primeiro Assassin's Creed foi lançado em 2007, ele mesmo já deu uma pausa e só em 2009 que veio Assassin's Creed II, porém a partir daí é que a franquia se tornou anual, isso sem contar com os spin offs, é claro, porque Altair's Chronicles saiu em 2008.
A partir do 2 é que a festa começou, inclusive com certos spin offs que faz até mesmo as pessoas confundirem e acharem que são da franquia principal, como Liberation e Rogue, que também são em mundo aberto e cheio de elementos mais bem elaborados, especialmente o Rogue que até mesmo recebeu dublagem em português.
No entanto com o passar dos anos a coisa começou a ficar complicada graças à repetição, e isso não apenas no Assassin's Creed, mas em todos os jogos em mundo aberto da Ubisoft, começaram a parecer o mesmo jogo com skins diferentes. Coisas como subir no ponto mais alto pra ver mais coisas, invadir bases, coletar itens, etc... A sensação começou a parecer igual demais.
Eu inclusive cheguei a mencionar na review sobre o Syndicate (O último jogo antes do Origins), sobre o quanto o jogo era divertido, mas simplesmente não parecia ser possível aproveitar de verdade pela super lotação de jogos usando os mesmos elementos, mas em eras diferentes. Mesmo as mecânicas próprias de cada título acabavam não sendo o bastante pra matar aquela sensação de "Parece ser mais do mesmo...".
Então quando a Ubisoft anunciou que em 2016 não teria um jogo da franquia principal, foi uma surpresa, mas foi um alívio, especialmente por ela declarar que o motivo era reformular o caminho que a franquia tomaria. E isso veio tarde, mas pelo menos veio, porque até mesmo no quesito história o jogo simplesmente não tava colando.
Lembro o quanto fiquei frenético com a história do primeiro jogo e como Assassin's Creed II dava uma imensa satisfação com aquela sensação de um imenso mistério, como por exemplo os pedaços do vídeo misterioso de duas pessoas correndo e que você ia montando, ou os outros seres que tem ligação com os Assassinos, era tudo intrigante demais.
Porém depois do 2 a história foi só ficando mais "Tá... Legal...", mas parece que em Assassin's Creed Black Flag foi quando falaram de vez "Dane-se! Quem precisa de história?", e focaram completamente na jogabilidade, criando um jogo fenomenal e ousado, mas em relação à trama é uma verdadeira bagaceira.
Em Origins não dá pra dizer que a trama é genial, porém ela é fluída e isso já é ótimo. Não é aquela sensação de bagunça e que não te deixa nem um pouco ligado aos personagens, ou mesmo te faz ligar se vive ou morre. Esse foi um imenso problema nos últimos da franquia, as coisas iam acontecendo, mas te deixavam meio "Tá... Tanto faz...".
Nesse eu me surpreendi, especialmente porque o Egito não é um dos meus cenários favoritos, quando foi anunciado achei até desanimador, eu não tava muito afim de vagar pelo deserto. Não me parecia que ia rolar um cenário muito interessante. O visual também não me agradou, sei que tem quem gosta, mas não foi meu caso.
Então imaginem a minha surpresa ao ver que estava me entretendo com o ritmo da coisa? Até porque os vídeos que vi do personagem me fizeram pensar que seria mais um Connor (Protagonista de Assassin's Creed 3), que acho insuportável e de longe o que mais detesto na franquia inteira, o Edward (De Black Flag) é um personagem vazio, mas pelo menos acho ele neutro, agora Connor era chato pra cacete, parecia uma tentativa de cópia da seriedade de Altair (De AC1), mas que não deu certo.
Sendo assim ao ver Bayek, logo imaginei que seria um personagem sem carisma algum, forçadamente sério pra tentar copiar o Altair mais uma vez e tal. Mas não, ele é um cara que consegue transmitir um jeito próprio, ele não é tão garotão descolado quanto Ezio, mas também não tem a seriedade de Altair, é um meio termo e acho que acertaram bem na dose.
A história se passa na época de Cleópatra, e apresenta Bayek, um Medjai, que é tipo um homem da lei e ordem do Antigo Egito, ajudando pessoas e resolvendo todo tipo de problema pelo benefício do reino. No entanto ele é surpreendido com uma traição e seu filho acaba sendo morto de forma trágica. Isso faz com que Bayek e sua mulher fiquem irados e tomados pelo desejo de vingança, passando a investigar e localizar um por um dos responsáveis, além de tentar entender o motivo.
Sentiram a atmosfera? Não é que seja genial a história, mas ela tem aquele TCHAN, e é desenvolvida no mesmo ritmo, não é como em alguns da franquia que parece que tanto faz o que vai acontecer depois e que o que está realmente mantendo a coisa é a jogabilidade. E aqui tem inclusive algumas reviravoltas que dão aquele climinha amais "O que? Então ele era o assassino o tempo todo?!". É bem legal hehehe.
Também aproveitaram de uma forma muito maravilhosa todo o ambiente do antigo Egito, a cultura e a visão forte em cima da religião. Inclusive se passa em um tempo em que a história já está relativamente avançada em relação a outros povos e por isso existem ambientes soterrados, lendas e maldições. É muito maneiro ver toda a cultura da coisa.
E por falar em pequenas histórias, tá aí algo que a Ubisoft finalmente decidiu criar vergonha e explorar direito. Quero dizer, pense em qualquer jogo da franquia, não é fácil imaginar inúmeras tramas? Inúmeros problemas, situações, etc? Quero dizer, em qualquer época tem pessoas vivendo e elas tem que lidar com situações normais do dia a dia.
Infelizmente as missões alternativas de todos os jogos da franquia antes desse se limitam a repetir eternamente a mesma coisa. São tipo o que? 5? 10 no máximo? Nelas você faz a mesma missão, porém como NPC's diferentes. Algumas são até boas, porém repetir eternamente a mesma coisa simplesmente chega a um ponto que causa aquela sensação de "É né... Meio que era mais divertido antes de eu repetir 50 vezes".
Aqui a coisa é diferente e as missões alternativa às vezes são tão bem elaboradas que nem dá pra acreditar que não fazem parte da trama principal. Porém pelo o jeito o que usaram como base foi, "Se a missão tem a ver com a morte do filho de Bayek, é principal, se não é alternativa", e assim nasceram inúmeras pequenas histórias elaboradas de verdade incríveis.
As missões alternativas repetitivas de jogos anteriores ainda estão presentes, porém com um diferencial, elas não são missões aqui, mas sim acontecimentos do ambiente, portanto um ataque de animal selvagem em que você tem que salvar pessoas ou uma base com certos comandantes podem até estar lá, mas não são missões, são tarefas que você faz se estiver passando por lá, inclusive é possível estar fazendo uma missão de verdade e acabar salvando prisioneiros que estavam no meio do caminho, é algo do tipo dois em um. Isso ficou demais!
Nas missões alternativas parece que a Ubisoft reuniu uma equipe exatamente para elaborar possibilidades e assim você acha coisas como um homem velho que perdeu o livro dos mortos para bandidos e ficou desesperado, casas que estão sendo desenterradas de uma cidade antiga e alguns habitantes acham inscrições esquisitas na parede e começam a temer o significado, equipes de corredores fanáticos e muito mais.
Mas a coisa ainda foi além e cada missão é dividida em várias etapas, sendo que você não começa do zero quando volta, é possível abandonar uma missão e seguir caminho, às vezes por estar muito longe, às vezes por o nível exigido ser acima do seu. Isso torna a coisa muito fluída, te faz se sentir um verdadeiro homem da lei fazendo as coisas na medida em que vão aparecendo e não fazendo uma por uma em fila.
Aliás, a Ubisoft bebeu muito de The Witcher ein? E o fato dos Medjai terem realmente existido foi uma verdadeira maravilha pra empresa. Quando vi alguém comparando o jogo com The Witcher 3, achei que a pessoa estava viajando, mas depois que comecei a jogar, entendi que você tem mesmo uma sensação semelhante em diversos aspectos.
O fato de ser um andarilho que traz ordem já faz lembrar o Geralt, mas tem uma série de outros elementos, as missões contendo level adequado para serem feitas, as etapas que elas tem, o estilo de combate e até mesmo a narrativa. Esse detalhe incomodou algumas pessoas, mas ao meu ver deu uma bela de uma revitalizada na coisa.
Ainda vemos inúmeros elementos da franquia, mas tem vários que foram adaptados, por exemplo o personagem não é tão ágil. Desde Unity já era possível sentir um certo peso a mais no personagem, porém havia a luta corpo a corpo. Aqui o foco é mesmo em luta com espada e com arco, além de incluir o escudo, ou seja a coisa ganhou um estilo diferente, que por sinal é bem recomendado que jogue usando controle.
Se você gosta do estilo de luta de jogos como Dark Souls, certamente vai achar interessante, porém não é difícil, só que você não pode só ficar apertando X na hora certa, é preciso ficar mais atento, até pra fugir. Alguns inimigos requerem uma estratégia diferente também na hora que o combate começar.
A presença do arco rouba bastante a cena, adicionando uma opção interessante que é a do arco teleguiado, não é algo inovador e já foi visto em jogos como Wanted Weapons of Fate, Singularity e Jericho, mas ainda assim foi muito bom poder ver mais uma opção. Por outro lado entendo o fato disso incomodar muita gente, faz parecer que o personagem tem poderes.
Mas no jogo você vê que a ideia não é essa e sim fingir que você é fodão, quando na verdade você não é. Você pode só apontar e atirar, tem auto-mira, então é mais fácil mirar na cabeça, porém quando não se tem muito tempo pra pensar pode ser bom apontar e segurar o botão do gatilho pra guiar ao lugar certo.
Existe uma série de coisas maneiras pelo mundo, por exemplo tem os caçadores de recompensa extremamente difíceis que vagam pelas cidades e vez ou outra você está passando por uma exatamente quando um está por lá, aí já viu né? É muito bom! Especialmente quando você tem assuntos ali ou está tentando fazer algo e do nada ouve a trombeta deles, que te caçam loucamente.
E por falar nisso, cavalos estão de volta, um elemento muito bacana que deu um tempo na franquia por algum tempo, e combates montados aqui são comuns, assim como fugas. Existe inclusive a opção de mandar ele apenas seguir o caminho, e isso te dá tempo para usar o arco e atirar em inimigos durante perseguições, ou usar o escudo para se proteger e coletar flechas presas.
No mundo do jogo ainda acontecem algumas coisas loucas como você vagar pelo deserto e de repente começar a ter alucinações, seja um pano esquisito enorme voando, seja uma árvore bem verde que de repente começa a pegar fogo quando você se aproxima. Ainda há os erros do animus, que foi uma desculpa espetacular para adicionar mitologia, e assim você pode enfrentar deuses que são liberados em eventos com tempo limitado.
Ah sim, tem várias missões que são "missões do dia" e você pode pegar em um bazar, portanto quem gosta de armas novas pode ir pegando algumas quando faz essas missões, mas é preciso terminá-las antes que o dia acabe. É também uma ótima forma de aumentar o tempo de vida do jogo de uma forma simpática.
Mas esse não é o único elemento online, assim como vimos em Shadow of Mordor aquele sistema em que você acha certos inimigos que mataram um amigo seu, aqui você pode achar corpos de jogadores no chão e sair para investigar, matando os responsáveis por isso. É algo que dá um certo charme à coisa, ficou bem legal.
Aliás, esse elemento investigação é algo interessante presente no jogo, assim como em Batman Arkham Asylum você chega em áreas onde é preciso ativar o modo detetive, aqui também tem algo do tipo e é necessário analisar certas partes, montar a cena inteira e então liberar uma nova missão que vem a partir do que foi concluído.
Ainda sobre investigação, existem catacumbas escondidas pelo mundo, você entra e nelas pode ter de tudo, cobras venenosas, áreas secretas ocultas por paredes que se quebram e até mesmo quebra cabeças que tem que ser resolvidos. Esses ambientes são tão escuros que você precisa levar uma tocha para explorar.
Os navios também estão de volta ao jogo, assumo que não achei tão fluído quanto em Black Flag, mas pra quem gosta é algo a mais. Na maioria do tempo achei mais interessante vagar em pequenos barcos a vela, ir a certos lugares e mergulhar para coletar tesouros. Nesse jogo é preciso tomar cuidado com hipopótamos e jacarés.
Existe uma vida selvagem, porém achei meio limitada e alguns até mesmo mal utilizados, por exemplo tem uma vasta variedade de aves, porém o que mais é usado são animais como os dois já citados junto com leões, hienas e veados. Você precisa caçar eles para usar o couro e forjar melhorias como carregar mais flechas, aumentar a vida, dar mais dano, etc.
O sistema de armas do jogo permite que você aperfeiçoe cada um deles, assim pode ir até cidades e procurar um ferreiro, lá é possível aumentar certas armas para o nível que você estiver. Achei interessante colocarem algo assim, existem armas com cores diferentes que simbolizam o nível de raridade delas.
Uma coisa que achei bem bacana (e que foi uma surpresa), é que enquanto jogo sempre me sinto vendo o universo do jogo Pharaoh por um outro ângulo. Vagando por aquelas cidadezinhas, sim eu sei que é o mesmo universo, mas não imaginei que iria ter essa sensação ao ver aquele design de construções por outro ponto de vista.
Enfim, tá aí um belo de um jogo que fez muito bonito e é cheio de belos elementos. Essa parada de dois anos foi muito boa. Deu uma reformulada que precisava ser feita e também deu tempo para sentir saudades da franquia, acho que foi uma bela de uma jogada da Ubisoft, não é à toa que ficou com notas Muito Positivas na steam, recomendo demais!
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