Todo mundo conhece Kill Bill, e os fãs sabem que o filme tem personagens inspirados em uma quantidade enorme de obras, como o chocante anime Kite, além de referências a diversas obras como Três Homens em Conflito, no entanto existe uma obra em especial que é a base dofilme em si, e essa obra é o filme japonês de 1973, "Lady Snowblood - Vingança na Neve" ou no original Shurayuki-hime (修羅雪姫).
Uma curiosidade é que esse filme é baseado em um mangá de mesmo nome, lançado entre 1972 e 1973, ou seja, o negócio conseguiu empolgar pra valer, já que durante sua publicação o filme entrou em produção, sendo lançado no mesmo ano em que o mangá terminou. O criador dele é Kazuo Koike, nada menos do que o autor do absurdamente famoso Lobo Solitário, que inclusive estava em publicação na mesma época (1970-1976).
A história se inicia no ano de 1874, quando uma menina nasce em uma prisão feminina, sua mãe não resiste, mas morre com um imenso desejo de vingança e com a esperança de que sua filha se vingue daqueles que mataram cruelmente toda sua família e a fizeram ir parar naquele lugar. E assim a garota cresce treinando arduamente desde a infância e se preparando para localizar e caçar os responsáveis.
O filme tem realmente o mesmo formato de Kill Bill e apresenta semelhanças em diversos aspectos, nele uma mulher viaja pelo país, tentando localizar os assassinos responsáveis pela morte de seu pai, irmão e que fizeram sua mãe ir parar na prisão. Cada um deles tocou sua vida e ela vai atrás preparada para lutar.
Outro ponto é que a coisa é apresentada também em forma de capítulos, portanto é como se fossem várias histórias que juntas formam a obra completa. Em cada capítulo você vê a evolução da coisa e as consequências de cada assassinato, ou seja, um morre, porém mais pra frente acontecem coisas como um personagem ficar marcado por isso.
O próprio visual da personagem também tem um toque bem peculiar, carregando um guarda chuvas e uma katana. Aliás, outro detalhe bem forte parecido com Kill Bill, a personagem usa uma katana para lutar ao invés de uma arma mais feminina ou meramente uma técnica discreta como envenenamento. Esse é um filme extremamente sangrento, a protagonista chega a ficar ensopada.
Sabem aquela cena em anime que tem em Kill Bill onde uma parte da história é contada usando esse formato? Em Lady Snowblood há algo parecido, no entanto ao invés da coisa ser mostrada no formato de anime, é mostrado na forma de mangá, com os quadrinhos sendo apresentados na tela enquanto uma narração da coisa é feita.
A música japonesa Shura no Hana, que ficou tão conhecida em Kill Bill e que marca tanto é nada menos do que a própria trilha sonora de Lady Snowblood e é tocada várias vezes durante o filme. A música é interpretada pela atriz e cantora Meiko Kaji, e aparece nas cenas do Japão em Kill Bill, dando um baita toque especial à coisa.
No entanto é preciso ficar atento de algo, a sensação que Lady Snowblood me causou foi meio desagradável, lembrando os filmes da Trilogia da Vingança, sabem aquela sensação de algo que não é prazeroso pela vingança, mas bem dolorido? Bom, dá pra sentir bem a dor da personagem, ela é bem perturbada.
A ideia em si de uma criança que nasceu e cresceu ouvindo a história do que aconteceu com a mãe e seu último desejo, o treinamento. É notável que se trata de uma personagem muito perturbada e com uma dor bastante profunda. Apesar de tudo existe aquele mesmo clima seco de obras dos anos 70, algo com um ritmo mais lento.
Inclusive quando terminei de assistir esse filme, a sensação é de que tinha assistido algo de umas quatro horas de duração e não pouco mais de uma hora e meia, parece que a história é gigantesca. Infelizmente tenho que dizer isso no mal sentido da coisa, eu já falei aqui algumas vezes que filmes dos anos 70 me cansam, então é aquele caso de algo que admiro mas não digo que foi completamente gostoso de se ver.
Certamente se Lady Snowblood tivesse sido feito com o mesmo carinho, porém em tempos modernos, iria acabar parecendo com Kill Bill mesmo, no entanto com uma atmosfera mais séria, já que não dá pra dizer que existe o clima de filme trash que dá um certo tempero. Aqui a coisa é mais voltada pra vingança mesmo, aliás, acredito que Lady Vingança também é um filme inspirado, com todo esse negócio de prisão feminina e vingança sangrenta.
Enfim, esse é um filme ótimo, artístico, com um toque sério, porém ao mesmo tempo com elementos mais comerciais que dão um toque fantástico e um final que é pura arte. Não vou dizer que amei por completo já que o ritmo é bem lento, mas é impossível não admirar o carinho que foi colocado na criação da coisa, então recomendo pra aquele momento em que você estiver com paciência.
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