Existem algumas histórias sinistras por aí que são muito interessantes e conseguem se destacar por sua maneira de apresentação. Quem não lembra da história em quadrinhos que fez a internet gritar? O principal detalhe daquele negócio foi exatamente a forma de apresentação diferenciada e mesmo a primeira versão não sendo em inglês, conseguiu ficar super popular.
E hoje vou postar aqui mais uma dessas obras, que no caso foi sugerida pelo leitor Miguel Ângelo e surgiu como um conto interativo que tem mais nome de conto erótico incestuoso hahaha. Ele foi publicado inicialmente em inglês com o nome de My father's long, long legs e naquela versão as partes da história iam surgindo aos poucos e vez ou outra você podia escolher uma opção para seguir. Clique aqui para conferir.
Essa é um daqueles contos longos e profundos, que chamam a atenção por serem muito bem escritos, como A casa sem fim ou Querida Abby, então pode trazer muita diversão, especialmente para os que gostam de histórias sombrias. Mas já aviso que existe um baita de um toque psicológico e as respostas da coisa não ficam na cara, aquele tipo de conto que gera naturalmente um monte de teorias.
O climinha é bem fantástico, me lembrou H.P. Lovecraft e Junji Ito, especialmente esse último, pois existe aquele baita clima de maldição, de que alguma coisa está muito errada e a paranoia de um dos personagens quanto a uma coisa, algo que parece estar completamente fora de controle e ninguém entende ou sabe o que fazer.
Antes de tudo, já digo que se vocês seguirem aquela dica para aperfeiçoar imensamente o inglês, esse conto pode ser uma forma fantástica de ficar realmente muito bom, isso porque ele é apresentado em frases bem pequenas e assim dá pra realmente melhorar demais, portanto pensem bem antes de simplesmente pular para a tradução aí embaixo:
As pernas muito, muito grandes de meu pai
Minha família vivia no sul de uma certa cidade industrial, em uma casa tão antiga que seu porão ainda tinha um chão de terra.
Eu não tinha idade suficiente para questionar abertamente os comportamentos de um parente, mas certamente tinha idade o bastante para perceber que havia algo muito estranho quando meu pai começou a cavar.
Eu tenho apenas uma memória completamente lúcida da época anterior à situação ficar alarmante, e meu pai se abstendo da luz solar para sempre.
Estou sentando no fim das escadas de madeira que levam ao nosso porão. À frente, na escuridão, meu pai está, da cintura pra baixo, dentro do buraco.
Ainda em seu uniforme azul marinho que usava na fábrica, escurecido pelo calor das máquinas e ainda mais escuro agora pela terra...
Assisti meu pai com a satisfação de uma criança que vê em seu pai um grande poço de força e sabedoria.
Na cozinha, minha mãe grita que o jantar está pronto.
Meu pai tira uma última pá de terra, e - em um único movimento - sai do buraco com enorme rapidez, em seguida passando ao meu lado e seguindo pelas escadas.
Ele sempre foi um homem alto, magro, e ainda hoje eu consigo ver a imagem das longas pernas de meu pai passando por cima de mim quando ele emergiu do buraco que passaria anos escavando em nosso porão.
Afora meu pai, éramos três: minha mãe, meu irmão mais novo, e eu.
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Há muito sobre minha mãe que eu não entendo.
Ela mesma me disse que achou meu pai atraente por ele ser uma pessoa completamente incomum.
Ele havia chegado naquela cidade e conseguido um emprego na mesma fábrica em que minha mãe trabalhava.
Embora fosse um homem prático, ele lia constantemente e de maneira voraz. Do conserto de máquinas até filosofia, ele lia de tudo. Um hábito adquirido, de acordo com o próprio, de seus pais.
Isso era tudo que ele nos dizia sobre sua família. Qualquer outra pergunta do assunto faria com que ele saísse rapidamente da sala ou que começasse a falar de outro assunto.
Uma vez, minha mãe disse que achava que ele fugiu de casa.
Fossem quais fossem seus motivos para abandonar sua antiga família, meu pai não esperou muito para criar uma nova.
Nasci apenas alguns meses após o casamento de meus pais.
Alguns anos depois, meu pai estava ganhando o suficiente para que minha mãe pudesse ficar em casa e tomar conta de mim e, não muito depois, meu irmão.
Então, uma noite, quando meu irmão tinha apenas um ano, meu pai chegou em casa, tirou uma pá novinha em folha de sua caminhonete, e desceu para o porão, onde começou a cavar.
Num primeiro momento ele disse à minha mãe que estava preparando o lugar para fazer um piso de cimento, sugerindo o início de uma completa (ou parcial) renovação da casa.
Eu era apenas uma criança, e as ações dos adultos ainda eram um grande mistério pra mim. Logo, não sei em que momento minha mãe percebeu que isso era mentira.
Tampouco sei o que aconteceu quando meu pai chamou minha mãe para o porão onde discutiram o assunto. A porta foi trancada uma vez que entraram lá, e eu e meu irmão ficamos sozinhos em casa.
Meu irmão chorou a noite toda, enquanto eu deitei em minha cama, os travesseiros apertados contra minhas orelhas.
No dia seguinte minha mãe reapareceu. Cuidou da casa, preparou a comida, e então se trancou no quarto logo depois que meu pai voltou do trabalho e recomeçou a cavar.
Meu pai, por sua própria decisão, parou de dormir no quarto, e começou a dormir no porão, uma decisão que coincidiu com o início de sua terrível metamorfose.
Foi tudo lento, porém perceptível. Ele começou a ficar pálido, e quando a fábrica fechou e ele pôde passar todos os dias no porão, ele estava tão branco quanto giz.
Talvez fosse o estado de suas roupas e o tom de sua pele que tenham causado essa impressão, mas ele parecia cada vez mais alto, como se seu tamanho estivesse ficando proporcional ao de seu projeto no subsolo de nossa casa.
Enquanto isso, minha mãe colocou meu irmão na pré-escola e me enviou para uma espécie de creche enquanto trabalhava para poder sustentar a casa. No que parecia o perfeito contraste de meu pai, ela foi ficando mais escura, e cada vez menor.
Meu pai cavava sem parar havia pelo menos uma década, e quando comecei o ensino médio, ele não saía mais do porão nem mesmo para jantar conosco.
E então minha mãe o deixou.
Meu pai estava absorvido demais em sua tarefa para repetir as discussões de minha infância - qualquer desejo que ele tivesse de continuar conosco aparentemente havia se perdido nas profundidades daquele buraco.
Minha mãe, aos poucos, foi voltando ao normal. Ela falava mais, ria muito mais. Ela teve amigos e namorados.
Não vimos nosso pai uma única vez depois que saímos de lá.
No dia que saímos de lá em definitivo ele nem mesmo saiu do porão, embora agora houvessem dúvidas quanto a sua capacidade de passar pela porta, pois ele estava incrivelmente alto.
Apenas muitos anos depois meu irmão sugeriu que voltássemos para visitar a casa do nosso pai.
Não é preciso dizer que meu irmão e eu tivemos experiência diferentes de nossa infância ali.
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Meu irmão era novo demais quando meu pai começou a escavar, e aquilo lhe pareceu algo "normal" da vida.
Parecia óbvio pra mim que algo estava errado com nossa casa. O erro era gritado, eu pensava, pelo modo como minha mãe andava pela casa, preparando a comida, e se trancando no quarto.
O erro era gritado, é claro, por meu pai, que após perder seu emprego na fábrica passava dias inteiros no porão, saindo em horários irregulares para comer e usar o banheiro. (Sem falar nas mudanças físicas que aconteceram conforme o tempo passava).
O erro era gritado pelos meus atos, pela preocupação enorme que eu sentia de que em algum momento o frágil equilíbrio da casa seria quebrando e os amigos de meu irmão descobririam a terrível verdade de nossa família - uma situação que eu não podia articular direito, mas que me encheria de preocupação caso alguém de fora pudesse.
Meu irmão, sendo tão novo, não via nada de errado em convidar seus amigos para nossa casa, e até mesmo levava alguns para o subsolo para ver o que ele chamava - após ouvir nosso pai dizer isso, eu acho - "as renovações".
Os amigos nunca retornavam ao porão após serem levados por meu irmão. Outros se recusavam até mesmo a retornar para nossa casa - um alívio para mim, mas uma decepção para meu irmão.
Lembro de uma ocasião, quando ele provavelmente tinha sete anos, em que um de seus colegas fez uma cena.
Acho que aquela criança vinha de uma família religiosa, o que pode ter sido parte do problema, mas isso posse ser algo que eu creio ser verdade apenas por conta de meus preconceitos.
Mesmo tendo uma mentalidade muito distinta da minha, o garoto pelo menos partilhava de minhas preocupaçãoes quando ele tentou explicar a meu irmão que o projeto de nosso pai no subsolo era bastante anormal.
Saí da sala porque eu ouvi um choro vindo do porão. Eu sabia que meu irmão tinha trazido um amigo, então estava me preparando para o pior.
Os dois garotos estavam parados à porta do porão, que ainda estava aberta. Meu irmão olhou pra mim quando me aproximei, sem saber como consolar seu amigo.
"Você vai para o inferno", nosso visitante me disse, assim que ele olhou pra mim.
"É isso que ele está escavando aí em baixo", o garoto disse, olhando de mim para meu irmão. "Ele está cavando para o inferno, e vocês todos vão com ele".
Meu irmão parou de levar tantos amigos para nossa casa, e não creio que tenha convidado um único deles para ver "as renovações" outra vez.
"Nós vamos mesmo para o inferno?" ele me perguntou uma noite, deitado ao meu lado após um pesadelo.
Eu disse que não sabia.
"Mas é pra lá que papai está cavando?", ele perguntou.
Eu disse que não existia nenhum lugar assim.
"Então por que papai está cavando?"
No começo, quando eu sentava nas escadas e observava seu trabalho, meu pai me dava diferentes motivos para seu estranho projeto: procurando ossos de dinossauros, aumentando o porão para criar um quarto extra, procurando um tesouro enterrado, procurando petróleo, a suspeita de que uma corrente estava fluindo por baixo da casa.
Agora nenhuma de suas desculpas funcionava, e quando perguntado sobre o que estava fazendo - o que, de acordo com meu irmão, foi o que o garoto religioso fez - ele tinha outras coisas para dizer.
"Esse não é o mundo real", meu pai disse, ou algo parecido com isso.
"O que nós achamos que é o mundo real é só uma camada de poeira em torno do verdadeiro núcleo do universo. E o que é poeira? Matéria inerte! Peso morto! As sobras daqueles que vieram e se foram antes de nós, algo apenas para nos afastar cada vez mais da verdadeira criação. Houve um tempo em que os homens eram gigantes caminhando por uma Terra pequena, mas agora a Terra cresceu e inchou, enquanto nós encolhemos. Começando aqui, eu estou removendo esse sedimento, nossa inmundície coagulada, e retornando para nossa glória original".
Lembro desse manifesto apenas de cabeça, depois de várias variantes que meu pai recitou ao longo dos anos, e certamente foi isso que ofendeu o amigo de meu irmão.
Ainda assim, não havia resposta satisfatória, e menos ainda para meu irmão, enquanto ele se encolhia de medo do inferno, em minha cama.
Mas eu certamente não tinha uma única resposta a oferecer, e deixei que o assunto morresse em silêncio.
Talvez por isso que, após todos esses anos, ele me convidou para ir com ele de volta para a casa de nosso pai.
É verdade que minhas experiências foram fundamentais na minha decisão.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Um ano antes de saírmos de lá, fui ao porão pela última vez.
Meu irmão estava com seus amigos. Havia atingido a idade que fazia com que percebesse o quanto aquilo tudo era estranho e pertubador para visitantes, e minha mãe já estava trancada no quarto, provavelmente dormindo.
Meu pai estava, é claro, escavando o porão, e eu estava fazendo meu dever de casa enquanto assistia TV.
Ouvi alguém bater na porta.
Ao abrir a porta, vi um homem atarracado, mas muito bem vestido, de terno, gravata e chapéu. Um par de óculos bem pequeno estava apoiado na ponta de seu nariz, e parecia minúsculo em seu rosto enorme e redondo.
"Olá, minha jovem", ele me disse em uma voz rebuscada. "Seu pai está em casa agora?"
"Quem é você?" eu perguntei.
O homem ajeitou o chapéu, sorrindo para mim. "Você não tem motivo para me conhecer, é claro" ele disse, "mas eu sou seu tio".
Deixei o homem esperando na porta e fui procurar minha mãe. Mas ela não respondia, o que era normal naqueles tempos.
Isso me deixava uma única opção: procurar meu pai.
Ele não respondeu quando eu abri a porta e o chamei, embora eu pudesse ouvir o som débil e distante de sua escavação.
Olhei para a porta e vi, através do vidro translúcido na porta, a figura do homem que dizia ser meu tio. Desci pelas escadas de madeira até o porão.
A única luz, como sempre, era de uma única lâmpada pendendo do teto.
Meu pai havia se acostumado a trabalhar naquelas condições, mas para mim, a pouca iluminação tornava aquele labirinto extremamente confuso, onde os caminhos de terra e as sombras pareciam não ter grande diferença entre si.
Meu pai havia tentado cavar em linha reta, mas conforme os anos passaram ele reelaborou seus planos, desviando do centro do porão em pelo menos quatro metros e meio.
Dali ele começou a escavar o porão em um longo caminho em espiral, enroscado e torcido em torno de si mesmo como uma víscera de tamanho monstruoso, enquanto continuava marchando para baixo.
Parei no último degrau da escada de madeira que, pelo que eu pensava, ainda era parte da nossa casa.
A meus pés estava uma pilha de livros estranhos. Eram velhos, com capas brancas porém manchadas de marrom. Ao lado havia um chocalho bastante antigo, cheio de sujeira, e diversas pedras trabalhadas em formas incomuns mas que lembravam, de longe, instrumentos de trabalho.
Me virei para aquele vazio e chamei meu pai novamente.
Não houve nenhuma resposta, mas eu tinha certeza de que podia ouvir, embora distante, o som do escavamento.
Chamei novamente, e dessa vez expliquei os motivos. "Tem um homem aqui na porta!" eu disse. "Ele disse que é meu tio".
Esperei, e então o som do escavamento parou.
Um minuto depois, meu pai emergiu. Sua pele estava pálida, coberta apenas por sua roupa completamente rasgada e sujo da cabeça aos pés - incluindo até mesmo sua boca, que parecia bem mais escura.
"Seu tio", ele murmurou, sem perguntar nada. "Meu irmão".
Acenei com a cabeça.
"Traga-o aqui", ele ordenou.
O homem atarracado - meu tio, que pelo que me lembro cheirava a leite azedo - parecia exultante.
Levei-o até o porão, sua agitação crescendo até que ele viu meu pai, que agora estava incrivelmente alto (acho que ele estava com pelo menos 2,40 metros de altura ) e parado na "entrada" de seu túnel.
Eu sabia que devia sair, e conforme subi as escadas eu ouvi o visitante dizer que meu pai estava fazendo "um ótimo trabalho" para si mesmo, "considerando todas as circunstâncias".
Nunca mais vi esse homem que dizia ser meu tio, nem nesse nem em nenhum outro dia.
Talvez não por coincidência, essa é a última memória que eu tenho de meu pai, e foi a que retornou com tudo para minha mente quando meu irmão, muitos anos depois, sugeriu que voltássemos para a casa de nosso pai.
Parecia que meu irmão queria visitá-lo por puro desencargo de consciência, já que nosso pai estava sozinho há anos.
Por um lado, eu apreciava a preocupação de meu irmão, mesmo parecendo deslocada. Por outro, eu sabia que não podia pará-lo. Seus sentimentos quanto a nosso pai eram brandos.
A única dúvida era: eu iria com meu irmão, ou deixaria que ele fizesse a visita sozinho?
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Decidimos ir em um dia marcado para nossa antiga casa, onde achávamos que nosso pai ainda vivia, e nos encontraríamos dali a uma semana pela tarde.
Mas deve ter ocorrido algum engano.
Cheguei tarde.
Eu devo ter me atrasado - a única outra possibilidade seria a de meu irmão ter chegado mais cedo por algum motivo, para ver nosso pai antes de mim.
E eu não quero nem pensar por que ele teria feito isso.
A cidade estava menos industrial do que costumava ser, embora ainda houvesse um toque das indústrias no ar e na água. A velha vizinhança, que mesmo nos velhos tempos nunca foi abundante, havia caído em desgraça ainda maior.
As casas estavam caindo aos pedaços e, aparentemente, vazias. As calçadas tinham protuberâncias causadas pelas raízes de antigas árvores que ainda resistiam.
A única evidência de habitação era um carro. O carro de meu irmão, estacionado na frente de nossa velha casa.
As portas estavam trancadas, os vidros fechados. Ao tocar o capô, notei que não estava quente, mas fora isso eu não tinha como saber quanto tempo o carro ficou sem assistência.
À minha frente, a casa esperava.
Não parecia diferente do resto dos prédios.
As janelas haviam sumido, até mesmo as molduras haviam sido levadas, e a varanda estava destroçada, com uma poça de água da chuva.
A porta da frente estava aberta em um certo ângulo, sua dobradiça inferior quebrada ao meio.
Com cuidado, entrei e me vi na antiga sala de estar.
O chão estava cheio de lixo e pedaços da casa caídos do teto. A televisão havia sumido, mas ainda havia um espaço mais claro no papel de parede indicando onde ela ficava. O sofá agora era uma pilha de fungos e mofo.
Eu pude ver que a porta que levava ao porão havia sido completamente removida.
Chamei meu irmão e esperei por um momento, olhando para a mais completa escuridão.
É claro que não havia mais luz. Provavelmente desligaram tudo anos atrás.
Mas uma lanterna estava caída exatamente na entrada do porão.
Seria de meu irmão?
Era quase nova. Liguei-a e apontei para o porão, mas não era possível ver mais do que o fim da escada.
Chamei meu irmão novamente, e esperei.
Ainda não havia nenhuma resposta.
Presumindo que o porão ainda era exatamente como da última vez que eu tinha visto, meu irmão podia ter muito bem se machucado se ele tivesse descido as escadas sem a lanterna.
Ele podia estar caído ali, pouco depois da escada, inconsciente.
Eu tinha que ter certeza.
Com a lanterna pronta, desci para o porão.
Os degraus estalaram aos meus pés.
Cheguei ao fim da escada,
e quando a lanterna não pôde iluminar muito mais do que um declive indo cada vez mais para as profundezas da casa,
eu soube que meu pai havia feito um trabalho significativo na última década.
Eu desci.
Eu chamei meu irmão outra vez.
Virei à direita.
O cheiro mofado de terra encheu minhas narinas.
Ao meu redor não havia nada além de escuridão.
Continuei andando.
Chamei meu irmão outra vez, e não houve resposta.
O caminho se dividia agora, esquerda e direita.
Segui o som de escavamento.
Os caminhos que meu pai havia escavado pela terra se dividiam em todas as direções possíveis.
Ainda não havia sinal de meu irmão.
Ao longe, o som continuava, como se quem estivesse escavando não soubesse que eu estava ali - ou não ligasse.
Onde estava meu irmão?
Eu virei à direita.
Eu não encontrei meu irmão.
Eu não sei o que dizer para nossa mãe. Eu não sei o que fazer, para onde ir.
É verdade que eu desisti de minha busca, mas quando eu vi o que vivia ali, ou melhor, o que havia crescido ali, eu corri pra fora do porão.
Por pura sorte, ou talvez por destino, eu saí da escuridão, embora meu irmão não tenha conseguido.
Há uma chance, eu acho, de que ele esteja vivo.
Minha culpa é enorme, não duvide disso.
Mas ela é englobada pelo medo que eu senti quando fiquei frente a frente com o terrível resultado da tentativa de meu pai de restaurar um mundo apodrecido.
Uma vez eu disse a meu irmão que não existia inferno.
Ainda acho que isso é verdade.
Mas onde quer que meu irmão esteja agora...
Será que agora ele está tão alto quanto nosso pai?
Eu não tinha idade suficiente para questionar abertamente os comportamentos de um parente, mas certamente tinha idade o bastante para perceber que havia algo muito estranho quando meu pai começou a cavar.
Eu tenho apenas uma memória completamente lúcida da época anterior à situação ficar alarmante, e meu pai se abstendo da luz solar para sempre.
Estou sentando no fim das escadas de madeira que levam ao nosso porão. À frente, na escuridão, meu pai está, da cintura pra baixo, dentro do buraco.
Ainda em seu uniforme azul marinho que usava na fábrica, escurecido pelo calor das máquinas e ainda mais escuro agora pela terra...
Assisti meu pai com a satisfação de uma criança que vê em seu pai um grande poço de força e sabedoria.
Na cozinha, minha mãe grita que o jantar está pronto.
Meu pai tira uma última pá de terra, e - em um único movimento - sai do buraco com enorme rapidez, em seguida passando ao meu lado e seguindo pelas escadas.
Ele sempre foi um homem alto, magro, e ainda hoje eu consigo ver a imagem das longas pernas de meu pai passando por cima de mim quando ele emergiu do buraco que passaria anos escavando em nosso porão.
Afora meu pai, éramos três: minha mãe, meu irmão mais novo, e eu.
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Há muito sobre minha mãe que eu não entendo.
Ela mesma me disse que achou meu pai atraente por ele ser uma pessoa completamente incomum.
Ele havia chegado naquela cidade e conseguido um emprego na mesma fábrica em que minha mãe trabalhava.
Embora fosse um homem prático, ele lia constantemente e de maneira voraz. Do conserto de máquinas até filosofia, ele lia de tudo. Um hábito adquirido, de acordo com o próprio, de seus pais.
Isso era tudo que ele nos dizia sobre sua família. Qualquer outra pergunta do assunto faria com que ele saísse rapidamente da sala ou que começasse a falar de outro assunto.
Uma vez, minha mãe disse que achava que ele fugiu de casa.
Fossem quais fossem seus motivos para abandonar sua antiga família, meu pai não esperou muito para criar uma nova.
Nasci apenas alguns meses após o casamento de meus pais.
Alguns anos depois, meu pai estava ganhando o suficiente para que minha mãe pudesse ficar em casa e tomar conta de mim e, não muito depois, meu irmão.
Então, uma noite, quando meu irmão tinha apenas um ano, meu pai chegou em casa, tirou uma pá novinha em folha de sua caminhonete, e desceu para o porão, onde começou a cavar.
Num primeiro momento ele disse à minha mãe que estava preparando o lugar para fazer um piso de cimento, sugerindo o início de uma completa (ou parcial) renovação da casa.
Eu era apenas uma criança, e as ações dos adultos ainda eram um grande mistério pra mim. Logo, não sei em que momento minha mãe percebeu que isso era mentira.
Tampouco sei o que aconteceu quando meu pai chamou minha mãe para o porão onde discutiram o assunto. A porta foi trancada uma vez que entraram lá, e eu e meu irmão ficamos sozinhos em casa.
Meu irmão chorou a noite toda, enquanto eu deitei em minha cama, os travesseiros apertados contra minhas orelhas.
No dia seguinte minha mãe reapareceu. Cuidou da casa, preparou a comida, e então se trancou no quarto logo depois que meu pai voltou do trabalho e recomeçou a cavar.
Meu pai, por sua própria decisão, parou de dormir no quarto, e começou a dormir no porão, uma decisão que coincidiu com o início de sua terrível metamorfose.
Foi tudo lento, porém perceptível. Ele começou a ficar pálido, e quando a fábrica fechou e ele pôde passar todos os dias no porão, ele estava tão branco quanto giz.
Talvez fosse o estado de suas roupas e o tom de sua pele que tenham causado essa impressão, mas ele parecia cada vez mais alto, como se seu tamanho estivesse ficando proporcional ao de seu projeto no subsolo de nossa casa.
Enquanto isso, minha mãe colocou meu irmão na pré-escola e me enviou para uma espécie de creche enquanto trabalhava para poder sustentar a casa. No que parecia o perfeito contraste de meu pai, ela foi ficando mais escura, e cada vez menor.
Meu pai cavava sem parar havia pelo menos uma década, e quando comecei o ensino médio, ele não saía mais do porão nem mesmo para jantar conosco.
E então minha mãe o deixou.
Meu pai estava absorvido demais em sua tarefa para repetir as discussões de minha infância - qualquer desejo que ele tivesse de continuar conosco aparentemente havia se perdido nas profundidades daquele buraco.
Minha mãe, aos poucos, foi voltando ao normal. Ela falava mais, ria muito mais. Ela teve amigos e namorados.
Não vimos nosso pai uma única vez depois que saímos de lá.
No dia que saímos de lá em definitivo ele nem mesmo saiu do porão, embora agora houvessem dúvidas quanto a sua capacidade de passar pela porta, pois ele estava incrivelmente alto.
Apenas muitos anos depois meu irmão sugeriu que voltássemos para visitar a casa do nosso pai.
Não é preciso dizer que meu irmão e eu tivemos experiência diferentes de nossa infância ali.
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Meu irmão era novo demais quando meu pai começou a escavar, e aquilo lhe pareceu algo "normal" da vida.
Parecia óbvio pra mim que algo estava errado com nossa casa. O erro era gritado, eu pensava, pelo modo como minha mãe andava pela casa, preparando a comida, e se trancando no quarto.
O erro era gritado, é claro, por meu pai, que após perder seu emprego na fábrica passava dias inteiros no porão, saindo em horários irregulares para comer e usar o banheiro. (Sem falar nas mudanças físicas que aconteceram conforme o tempo passava).
O erro era gritado pelos meus atos, pela preocupação enorme que eu sentia de que em algum momento o frágil equilíbrio da casa seria quebrando e os amigos de meu irmão descobririam a terrível verdade de nossa família - uma situação que eu não podia articular direito, mas que me encheria de preocupação caso alguém de fora pudesse.
Meu irmão, sendo tão novo, não via nada de errado em convidar seus amigos para nossa casa, e até mesmo levava alguns para o subsolo para ver o que ele chamava - após ouvir nosso pai dizer isso, eu acho - "as renovações".
Os amigos nunca retornavam ao porão após serem levados por meu irmão. Outros se recusavam até mesmo a retornar para nossa casa - um alívio para mim, mas uma decepção para meu irmão.
Lembro de uma ocasião, quando ele provavelmente tinha sete anos, em que um de seus colegas fez uma cena.
Acho que aquela criança vinha de uma família religiosa, o que pode ter sido parte do problema, mas isso posse ser algo que eu creio ser verdade apenas por conta de meus preconceitos.
Mesmo tendo uma mentalidade muito distinta da minha, o garoto pelo menos partilhava de minhas preocupaçãoes quando ele tentou explicar a meu irmão que o projeto de nosso pai no subsolo era bastante anormal.
Saí da sala porque eu ouvi um choro vindo do porão. Eu sabia que meu irmão tinha trazido um amigo, então estava me preparando para o pior.
Os dois garotos estavam parados à porta do porão, que ainda estava aberta. Meu irmão olhou pra mim quando me aproximei, sem saber como consolar seu amigo.
"Você vai para o inferno", nosso visitante me disse, assim que ele olhou pra mim.
"É isso que ele está escavando aí em baixo", o garoto disse, olhando de mim para meu irmão. "Ele está cavando para o inferno, e vocês todos vão com ele".
Meu irmão parou de levar tantos amigos para nossa casa, e não creio que tenha convidado um único deles para ver "as renovações" outra vez.
"Nós vamos mesmo para o inferno?" ele me perguntou uma noite, deitado ao meu lado após um pesadelo.
Eu disse que não sabia.
"Mas é pra lá que papai está cavando?", ele perguntou.
Eu disse que não existia nenhum lugar assim.
"Então por que papai está cavando?"
No começo, quando eu sentava nas escadas e observava seu trabalho, meu pai me dava diferentes motivos para seu estranho projeto: procurando ossos de dinossauros, aumentando o porão para criar um quarto extra, procurando um tesouro enterrado, procurando petróleo, a suspeita de que uma corrente estava fluindo por baixo da casa.
Agora nenhuma de suas desculpas funcionava, e quando perguntado sobre o que estava fazendo - o que, de acordo com meu irmão, foi o que o garoto religioso fez - ele tinha outras coisas para dizer.
"Esse não é o mundo real", meu pai disse, ou algo parecido com isso.
"O que nós achamos que é o mundo real é só uma camada de poeira em torno do verdadeiro núcleo do universo. E o que é poeira? Matéria inerte! Peso morto! As sobras daqueles que vieram e se foram antes de nós, algo apenas para nos afastar cada vez mais da verdadeira criação. Houve um tempo em que os homens eram gigantes caminhando por uma Terra pequena, mas agora a Terra cresceu e inchou, enquanto nós encolhemos. Começando aqui, eu estou removendo esse sedimento, nossa inmundície coagulada, e retornando para nossa glória original".
Lembro desse manifesto apenas de cabeça, depois de várias variantes que meu pai recitou ao longo dos anos, e certamente foi isso que ofendeu o amigo de meu irmão.
Ainda assim, não havia resposta satisfatória, e menos ainda para meu irmão, enquanto ele se encolhia de medo do inferno, em minha cama.
Mas eu certamente não tinha uma única resposta a oferecer, e deixei que o assunto morresse em silêncio.
Talvez por isso que, após todos esses anos, ele me convidou para ir com ele de volta para a casa de nosso pai.
É verdade que minhas experiências foram fundamentais na minha decisão.
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Um ano antes de saírmos de lá, fui ao porão pela última vez.
Meu irmão estava com seus amigos. Havia atingido a idade que fazia com que percebesse o quanto aquilo tudo era estranho e pertubador para visitantes, e minha mãe já estava trancada no quarto, provavelmente dormindo.
Meu pai estava, é claro, escavando o porão, e eu estava fazendo meu dever de casa enquanto assistia TV.
Ouvi alguém bater na porta.
Ao abrir a porta, vi um homem atarracado, mas muito bem vestido, de terno, gravata e chapéu. Um par de óculos bem pequeno estava apoiado na ponta de seu nariz, e parecia minúsculo em seu rosto enorme e redondo.
"Olá, minha jovem", ele me disse em uma voz rebuscada. "Seu pai está em casa agora?"
"Quem é você?" eu perguntei.
O homem ajeitou o chapéu, sorrindo para mim. "Você não tem motivo para me conhecer, é claro" ele disse, "mas eu sou seu tio".
Deixei o homem esperando na porta e fui procurar minha mãe. Mas ela não respondia, o que era normal naqueles tempos.
Isso me deixava uma única opção: procurar meu pai.
Ele não respondeu quando eu abri a porta e o chamei, embora eu pudesse ouvir o som débil e distante de sua escavação.
Olhei para a porta e vi, através do vidro translúcido na porta, a figura do homem que dizia ser meu tio. Desci pelas escadas de madeira até o porão.
A única luz, como sempre, era de uma única lâmpada pendendo do teto.
Meu pai havia se acostumado a trabalhar naquelas condições, mas para mim, a pouca iluminação tornava aquele labirinto extremamente confuso, onde os caminhos de terra e as sombras pareciam não ter grande diferença entre si.
Meu pai havia tentado cavar em linha reta, mas conforme os anos passaram ele reelaborou seus planos, desviando do centro do porão em pelo menos quatro metros e meio.
Dali ele começou a escavar o porão em um longo caminho em espiral, enroscado e torcido em torno de si mesmo como uma víscera de tamanho monstruoso, enquanto continuava marchando para baixo.
Parei no último degrau da escada de madeira que, pelo que eu pensava, ainda era parte da nossa casa.
A meus pés estava uma pilha de livros estranhos. Eram velhos, com capas brancas porém manchadas de marrom. Ao lado havia um chocalho bastante antigo, cheio de sujeira, e diversas pedras trabalhadas em formas incomuns mas que lembravam, de longe, instrumentos de trabalho.
Me virei para aquele vazio e chamei meu pai novamente.
Não houve nenhuma resposta, mas eu tinha certeza de que podia ouvir, embora distante, o som do escavamento.
Chamei novamente, e dessa vez expliquei os motivos. "Tem um homem aqui na porta!" eu disse. "Ele disse que é meu tio".
Esperei, e então o som do escavamento parou.
Um minuto depois, meu pai emergiu. Sua pele estava pálida, coberta apenas por sua roupa completamente rasgada e sujo da cabeça aos pés - incluindo até mesmo sua boca, que parecia bem mais escura.
"Seu tio", ele murmurou, sem perguntar nada. "Meu irmão".
Acenei com a cabeça.
"Traga-o aqui", ele ordenou.
O homem atarracado - meu tio, que pelo que me lembro cheirava a leite azedo - parecia exultante.
Levei-o até o porão, sua agitação crescendo até que ele viu meu pai, que agora estava incrivelmente alto (acho que ele estava com pelo menos 2,40 metros de altura ) e parado na "entrada" de seu túnel.
Eu sabia que devia sair, e conforme subi as escadas eu ouvi o visitante dizer que meu pai estava fazendo "um ótimo trabalho" para si mesmo, "considerando todas as circunstâncias".
Nunca mais vi esse homem que dizia ser meu tio, nem nesse nem em nenhum outro dia.
Talvez não por coincidência, essa é a última memória que eu tenho de meu pai, e foi a que retornou com tudo para minha mente quando meu irmão, muitos anos depois, sugeriu que voltássemos para a casa de nosso pai.
Parecia que meu irmão queria visitá-lo por puro desencargo de consciência, já que nosso pai estava sozinho há anos.
Por um lado, eu apreciava a preocupação de meu irmão, mesmo parecendo deslocada. Por outro, eu sabia que não podia pará-lo. Seus sentimentos quanto a nosso pai eram brandos.
A única dúvida era: eu iria com meu irmão, ou deixaria que ele fizesse a visita sozinho?
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Decidimos ir em um dia marcado para nossa antiga casa, onde achávamos que nosso pai ainda vivia, e nos encontraríamos dali a uma semana pela tarde.
Mas deve ter ocorrido algum engano.
Cheguei tarde.
Eu devo ter me atrasado - a única outra possibilidade seria a de meu irmão ter chegado mais cedo por algum motivo, para ver nosso pai antes de mim.
E eu não quero nem pensar por que ele teria feito isso.
A cidade estava menos industrial do que costumava ser, embora ainda houvesse um toque das indústrias no ar e na água. A velha vizinhança, que mesmo nos velhos tempos nunca foi abundante, havia caído em desgraça ainda maior.
As casas estavam caindo aos pedaços e, aparentemente, vazias. As calçadas tinham protuberâncias causadas pelas raízes de antigas árvores que ainda resistiam.
A única evidência de habitação era um carro. O carro de meu irmão, estacionado na frente de nossa velha casa.
As portas estavam trancadas, os vidros fechados. Ao tocar o capô, notei que não estava quente, mas fora isso eu não tinha como saber quanto tempo o carro ficou sem assistência.
À minha frente, a casa esperava.
Não parecia diferente do resto dos prédios.
As janelas haviam sumido, até mesmo as molduras haviam sido levadas, e a varanda estava destroçada, com uma poça de água da chuva.
A porta da frente estava aberta em um certo ângulo, sua dobradiça inferior quebrada ao meio.
Com cuidado, entrei e me vi na antiga sala de estar.
O chão estava cheio de lixo e pedaços da casa caídos do teto. A televisão havia sumido, mas ainda havia um espaço mais claro no papel de parede indicando onde ela ficava. O sofá agora era uma pilha de fungos e mofo.
Eu pude ver que a porta que levava ao porão havia sido completamente removida.
Chamei meu irmão e esperei por um momento, olhando para a mais completa escuridão.
É claro que não havia mais luz. Provavelmente desligaram tudo anos atrás.
Mas uma lanterna estava caída exatamente na entrada do porão.
Seria de meu irmão?
Era quase nova. Liguei-a e apontei para o porão, mas não era possível ver mais do que o fim da escada.
Chamei meu irmão novamente, e esperei.
Ainda não havia nenhuma resposta.
Presumindo que o porão ainda era exatamente como da última vez que eu tinha visto, meu irmão podia ter muito bem se machucado se ele tivesse descido as escadas sem a lanterna.
Ele podia estar caído ali, pouco depois da escada, inconsciente.
Eu tinha que ter certeza.
Com a lanterna pronta, desci para o porão.
Os degraus estalaram aos meus pés.
Cheguei ao fim da escada,
e quando a lanterna não pôde iluminar muito mais do que um declive indo cada vez mais para as profundezas da casa,
eu soube que meu pai havia feito um trabalho significativo na última década.
Eu desci.
Eu chamei meu irmão outra vez.
Virei à direita.
O cheiro mofado de terra encheu minhas narinas.
Ao meu redor não havia nada além de escuridão.
Continuei andando.
Chamei meu irmão outra vez, e não houve resposta.
O caminho se dividia agora, esquerda e direita.
Segui o som de escavamento.
Os caminhos que meu pai havia escavado pela terra se dividiam em todas as direções possíveis.
Ainda não havia sinal de meu irmão.
Ao longe, o som continuava, como se quem estivesse escavando não soubesse que eu estava ali - ou não ligasse.
Onde estava meu irmão?
Eu virei à direita.
Eu não encontrei meu irmão.
Eu não sei o que dizer para nossa mãe. Eu não sei o que fazer, para onde ir.
É verdade que eu desisti de minha busca, mas quando eu vi o que vivia ali, ou melhor, o que havia crescido ali, eu corri pra fora do porão.
Por pura sorte, ou talvez por destino, eu saí da escuridão, embora meu irmão não tenha conseguido.
Há uma chance, eu acho, de que ele esteja vivo.
Minha culpa é enorme, não duvide disso.
Mas ela é englobada pelo medo que eu senti quando fiquei frente a frente com o terrível resultado da tentativa de meu pai de restaurar um mundo apodrecido.
Uma vez eu disse a meu irmão que não existia inferno.
Ainda acho que isso é verdade.
Mas onde quer que meu irmão esteja agora...
Será que agora ele está tão alto quanto nosso pai?
E aí, teorias sobre esse final?
3 Comentários
Que show! Não conhecia esse conto.
ResponderExcluirMas conhecia uma referência à ele (que só fui descobrir agora, claro).
Em "The Binding Of Isaac", meu "rogue-like-lite-leite-leke" favorito, existe um Boss que é o "Daddy Long Legs", e um item que é o "Daddy Longlegs" usado para summonar um pé do "Daddy Long Legs".
Coincidentemente em "The Binding Of Isaac" o protagonista, um garotinho pelado com a vida fudida por questões familiares e religiosas, desce pelo porão de sua casa para fugir de sua mãe.
Eu, que zerei o jogo de todas as maneiras possíveis e que acompanhei várias teorias sobre o jogo e suas inspirações, nunca entendi qual a relação desse "Daddy Long Legs" para o background do personagem. Agora começo a entender a inspiração.
Valeu Sky.
Desenvolvimento bom, mas o final deixou a desejar, talvez seja porque não entendi, talvez eu releia fora do serviço pra ver se entendo...
ResponderExcluirEu acho que o pais deles se tornou um slender subterrâneo mto loco que sequestrou o filho e que o mundo que ele procurava era o mundo de origem dele (algo como uma área oca dentro da terra, tipo viagem ao centro da terra só que puxado pra um lado meio macabro de satanás), relembrando que ele não falava sobre a família dele tal. Por isso que acho que ele veio de lá.
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