Tenho
uma porrada de ideias fervilhando em minha mente, uma legítima
tempestade cerebral, mas organizá-las em frases coerentes é um desafio e
tanto. A lauda em branco parece me dizer “você não é bom o bastante” e
então ouço um ruído. É o beep da secretária eletrônica seguida pela
mensagem “Se você está ouvindo isso, significa que estou fora, ou que
não quero lhe atender. Diga o motivo da
ligação e talvez eu retorne”. Era um ex-funcionário da Infinity Security
rogando pateticamente para que eu lhe devolvesse o emprego. Ignoro.
Olho para o calendário no canto da tela do computador. São 7 da noite do
dia 8 de agosto do ano do tigre. Acendo um cigarro enquanto me afasto
da máquina. Penso no quanto era fácil escrever quando estava no colegial
e então praguejo contra esses malditos exercícios propostos por meu
analista.
Ligo a televisão, diminuo a temperatura do ar-condicionado
e me sento na cama para fumar enquanto assisto o noticiário. É
transmitida uma reportagem dizendo que após as investigações o número de
vítimas do serrial killer capturado há 4 dias, foi confirmado em 8,
todas, mulheres. Estendo minha mão para bater as cinzas e vejo o
logotipo da Infinity Security nos documentos que larguei ao lado do
cinzeiro em cima do criado-mudo. Penso sarcasticamente “ainda bem que
ele foi pego”.
Aproximadamente 1 hora se passa, decido então sair de
casa. Vou ao banheiro, abro a torneira, coleto água com as mãos e molho
o rosto. Levanto minha cabeça e me surpreendo. “Olá!” disse a imagem
refletida no espelho. “Não está pensando em se divertir agora, não é
mesmo?” disse enquanto a sobrancelha se arqueava. A água da torneira
escorre lavatório a baixo enquanto olho a tatuagem localizada no lado
esquerdo do peitoral. Eram dois círculos interligados, o logotipo da
Infinity. “Nós temos um trato, ou se esqueceu disso? Tenho feito minha
parte, e é saudável que você cumpra o acordo.”
Minha pupila se
dilata enquanto analiso atentamente minha alma através do globo ocular, a
janela da alma, refletida naquele pedaço de vidro. “Não! Eu não quero
continuar! Nosso acordo acabou, me deixe em paz!”. Meu coração se
acelera e desvio o olhar de mim mesmo por alguns instantes. Miro
novamente o espelho. “Olhe só pra você... Criatura patética. Você
realmente confiou em algo como eu? Logo eu, que lhe ajudei a evoluir
aquela empresinha ridícula, usando meus meios não convencionais?”. A
água continua a escorrer e o ar-condicionado se silencia. “Você não
entende... Eu já cumpri o que me pediu... Agora você tem que me deixar" .
Aqueles olhos me fisgam novamente, de uma forma que eu nunca vi
antes... . Meus pelos se eriçam fazendo-o gargalhar. Minha mão formiga e
é tomada por um calor infernal. “Já chega! Não estou mais afim de
brincar. Essa sua vidinha até que é legal, mas eu tenho planos maiores .
Ideias mais complexas que sua capacidade de entendimento. Não posso
deixar que a necessidade da proteção seja comprometida. Preciso...
Preciso continuar! Somente a insegurança legitima o discurso da
proteção.ATÉ NO INFERNO, MORTAL ESTÚPIDO!”, grito socando o espelho que
se quebra e rasga meus dedos.
Saio em passos rápidos da casa,
espalhando um rastro de pingos de sangue. Entro no Mustang quase
inconsciente e acelero o máximo que posso enquanto “Paranoid” é
executada no rádio. Olhares atentos buscando em meio a uma infinidade de
feixes circulares de luzes que surgem na minha frente, uma chance de
cumprir minha missão, preciso dar o a ele o que quer e talvez assim
ainda continue seguro... As luzes tomam toda minha visão e causam uma
dor de cabeça insuportável... Cumprir minha missão... Preciso...
∞
∞
Autor: Oliver Emmanuel
Esse é um dos contos que concorreu no concurso de contos de terror do blog.
1 Comentários
A moral é que o babaca do protagonista/antagonista fez um pacto com o tinhoso e cumpre ele matando mulheres? É isso né?
ResponderExcluirEsse babaca merece mesmo ter o c% rasgado pelo mochila de criança.
Bom conto.