Esse é um daqueles jogos fantásticos em que você não se diverte com a mecânica, mas sim com a essência que é transmitida. Existe um foco total na atmosfera e sensação de harmonia com ambientes naturais em contraste com obras feitas por mãos humanas. Definitivamente um jogo que pode não agradar a todos, mas que certamente a maioria daqueles que agradar, conseguirá transmitir um momento bastante único, esse não é um jogo para ser jogado e sim para ser sentido.
A história te coloca no papel do habitante de uma vila que está esperando a sua casa terminar de ser construída, enquanto isso participa de um grande festival onde a maioria está muito empolgada e participando de alguma maneira, até que, enquanto você explora as terras próximas ao lugar, encontra uma gigantesca estátua de pedra, e pode ouvir uma voz falando algo sobre uma ligação com outros mundos, e ao retornar para o festival, o ancião da cidade fala com você e te diz que o mesmo já aconteceu com ele, revelando uma forma de ver coisas não visíveis para quase ninguém, e assim você começa a naturalmente ser guiado em uma jornada enquanto observa acontecimentos de um outro tempo que ocorreram pelos lugares onde você passa.
É certo que muita gente vai jogar e achar esse jogo puramente estranho, porque ele realmente é um tanto esquisito, em geral a jogabilidade dele é no estilo de Dear Esther, sendo classificado como um tipo de conto interativo. Dessa maneira, se a pessoa já for preparada para isso, certamente irá aproveitar muito, já se a pessoa for pega de surpresa e ficar esperando o momento em que a jogabilidade vai começar, pode ficar frustrada ao se ver jogando durante uma hora seguida e ainda não ter começado. No meu caso, fui pego de surpresa, mas felizmente não me senti frustrado, acho que joguei no momento certo, pois amei o climinha e mesmo depois que percebi que não teria uma jogabilidade muito além daquilo, estava gostando um bocado.
Basicamente no jogo você vê as coisas acontecerem, é o tipo de obra em que você vaga pelos ambientes e a interação é relativamente baixa, você tem algumas ferramentas que usa para cortar mato quando aparecem e destroçar pedras, abrindo assim caminho para continuar vagando, há também momentos em que você tem que ativar certas coisas para poder seguir em frente, mas em geral o foco do jogo é a história, sendo assim você anda e observa as coisas acontecerem.
Há uma baita de uma essência que pode ser sentida facilmente, é bem incrível apertar o botão para observar o outro mundo, e ver tudo ficar preto e branco, os elementos físicos do seu mundo de repente paralisarem, e então novas coisas aparecerem, essas podem ser meras paisagens, ou personagens conversando e assim uma história sendo apresentada.
Não pude deixar de notar o quanto esse jogo tem um toque lovecraftiano, em especial as obras do ciclo dos sonhos combinam muito, isso porque há um ar onírico em toda parte, e ao mesmo tempo um toque mais sombrio, é uma mistura constante de beleza e horror. Há vastos campos como Lovecraft costuma tanto descrever, mas também templos, símbolos antigos e artefatos, além de seres gigantescos presentes simultaneamente em múltiplas dimensões, conhecidos como "Ancient Creatures", tornando inevitável pensar nos Mitos de Cthulhu.
O gráfico é realmente uma beleza, ele parece ter sido pensado em um "O que seria o mais próximo do fotorealismo na época da geração 8 bits?", isso porque é notável que são sim gráficos bem pixelizados, mas tudo tem uma movimentação tão bonita e detalhes tão incríveis, que o que parece é que pegaram uma cena real, fotografaram, diminuíram a um tamanho minúsculo, esticaram e então retocaram. Digo isso porque é lindo de se ver, por mais que sejam gráficos "feios".
Enfim, fica aí a dica de jogo muito belo que certamente vai atrair aqueles que gostam de obras bastante atmosféricas. Quem se interessar pode dar uma conferida no site oficial de Qora.
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